Como Diego Maradona se tornou uma lenda também fora de campo O ex-jogador adotou um estilo de vida que o imortalizou não apenas na Argentina, mas no mundo inteiro gplus
   

Como Diego Maradona se tornou uma lenda também fora de campo

O ex-jogador adotou um estilo de vida que o imortalizou não apenas na Argentina, mas no mundo inteiro

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Até mesmo quem não acompanha o futebol de maneira ávida, assistindo aos jogos que acontecem pelo mundo e transmitidos durante a semana, sabe quem é Diego Armando Maradona Franco. O argentino, nascido em Lanús, em 30 de outubro de 1960, jogou em clubes tradicionais ao longo de sua carreira, com destaque para Barcelona, Napoli e Boca Juniors - equipe esta última na qual pendurou as chuteiras em 1997.

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Enquanto esteve dentro das quatro linhas atuando como jogador profissional, Maradona usou a ginga e a perna esquerda para destilar todo seu talento. Nos gramados, conquistou uma Copa do Mundo (1986), dois Campeonatos Italianos, Campeonato Espanhol, Copa do Rei, Copa da Itália e algumas outras taças que coleciona com orgulho.

Dieguito, porém, levou sua imagem muito além das quatro linhas. Sua presença, hoje tida como eterna na história do esporte, também está nos mais diversos campos, como na política, músicas e até na "religião maradoniana". Ídolo do futebol portenho, Maradona também foi a voz daqueles que se viam injustiçados e encontraram na imagem de Diego a vazão para seus sentimentos. 

O JEITO POLÊMICO, SUBVERSIVO
Desde jovem, Diego já era visto como uma joia; apelidado de "Pibe De Oro" (Garoto de ouro, em português), Maradona mostrava serviço pelo Argentinos Juniors e encantava os espectadores pela Argentina no início da trajetória profissional. Aos 24 anos, já estava no Barcelona; e foi no clube catalão que Diego diz ter consumido drogas pela primeira vez - as substâncias proibidas permearam a carreira do ex-jogador. "Tinha 24 anos quando consumi drogas pela primeira vez. Foi o maior erro da minha vida", afirmou Maradona certa vez em entrevista a um veículo italiano. 

A relação do "Pibe d'Oro" com a cocaína, por exemplo, foi motivo para muitos questionarem suas práticas como esportista e até o atacarem questionando seu caráter. Mas para Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, a droga não foi uma maneira de trapaça por parte de Diego, pelo contrário. "Jogava melhor do que ninguém, apesar da cocaína, e não por causa dela".

Em 1991, o craque argentino foi pego no antidoping quando estava no Napoli. Fora de campo, Maradona também teve problemas, dessa vez com a polícia. Devido à substância ilegal, foi preso e condenado pela Justiça de seu país a se submeter a um tratamento de desintoxicação. Três anos depois do caso na Itália, Maradona voltou a ser pego no doping, dessa vez durante a Copa do Mundo de 1994, mas por uso de efedrina - proibida para esportistas. Foi a última participação de Dieguito em mundiais.

AS MALVINAS (OU FALKLANDS)
Na Copa de 1986, no México, Maradona driblou meio time da Inglaterra no Estádio Azteca e marcou um dos gols mais bonitos da história das Copas do Mundo. O gol antológico ultrapassou o peso de um tento anotado em mata-mata de mundial - que já é gigantesco - e ganhou contornos de revanche. 

Quatro anos antes, em 1982, Argentina e Reino Unido entraram em guerra por uma porção de terra (Ilhas Malvinas, Falklands, para os britânicos) reivindicada pelas duas partes. Apesar de toda a resistência dos sul-americanos, os europeus saíram vencedores do duelo bélico, o que acendeu ainda mais a chama do jogo das quartas de final da Copa do Mundo de 1986. 

Com a vitória dentro das quatro linhas após o confronto militar, Maradona não foi apenas um jogador que marcou um golaço contra um adversário forte, mas se tornou também uma figura de redenção contra o "inimigo", um verdadeiro herói para muitos argentinos ainda fragilizados com o revés na guerra. Nas palavras do próprio Diego, "...foi mais do que vencer um time de futebol. Derrotamos um país."

O LADO POLÍTICO
Maradona nunca escondeu suas preferências políticas; com o rosto de Che Guevara tatuado no braço direito e a face de Fidel Castro marcada na panturrilha esquerda, Diego volta e meia se posiciona sobre seu entendimento de sociedade e de governos, mesmo que isso seja motivo para a crítica de muitas pessoas ao seu redor. Além disso, já foi fotografado ao lado do ex-líder cubano Fidel, o qual Diego chamou de "segundo pai" após a morte do político. O ex-jogador costumeiramente mostra alinhamento aos governos de esquerda da América Latina.

A RIVALIDADE COM PELÉ
Todo herói precisa de seu vilão, e vice-versa. Para muitos brasileiros, Maradona é um anti-herói, a figura que chegou perto de ameaçar o reinado de Pelé. Para outros portenhos, Diego é um Deus, enquanto Edson Arantes é humano muito bom de bola. A rivalidade entre os dois craques ajudou a esquentar os clássicos Brasil x Argentina ao longo da história, verdadeiros embates dignos de muita emoção para os amantes de futebol dos dois países. Entre alfinetadas e afagos, recentemente os dois foram fotografados juntos na Rússia, durante os preparativos para o mundial. Mas a rivalidade, além de duas grandes seleções fortes, é capitaneada por Maradona x Pelé. E provavelmente isso será eterno.

UM DEUS HUMANO
Devido às realizações dentro e fora da cancha, Maradona é motivo de adoração por seus fãs ao redor do planeta. Em seu país natal, o ex-jogador tem uma igreja construída em seu nome. Nela, diversos fiéis depositam flores e fazem orações; a "religião maradoniana" ainda reúne seguidores do mundo todo, que frequentemente visitam a capela. Por lá, o Natal é celebrado em 30 de outubro, a data de nascimento do ex-jogador.

Na música, Dieguito também não passa batido. É referência para diversas homenagens, entre as mais famosas, uma canção do cantor Rodrigo (conhecido como "El Potro"), que descreve em seus versos a trajetória e a importância do ícone para seu povo. "Carrega uma cruz nos ombros por ser o melhor, por não vender-se jamais ao poder que enfrentou. Fraqueza curiosa, se Jesus tropeçou, por que ele também não faria isso?", questiona o cantor na música "La mano de Dios".

 
DIEGO MARADONA 2.0
Maradona mudou. Pelo menos em algumas coisas que hoje não consegue mais fazer. Os joelhos, por meio das dores, cobram o preço pelos anos de glória. Diego já não é mais visto jogando futebol, uma de suas maiores paixões. Leva a vida como treinador para estar perto do esporte que tanto lhe deu e tomou. Comandou a seleção argentina durante a Copa de 2010 e atualmente é técnico do Dorados de Sinaloa, time da segunda divisão mexicana.

A última grande aparição de Diego Maradona foi no mundial da Rússia. Na partida de seu país contra a Nigéria, Dieguito mostrou que nem o tempo apaga sua chama de torcedor. Vibrou, lamentou, xingou, dançou, e, após o encerramento da partida, passou mal. "Os que achavam que eu estava morto, que se f.". Maradona ainda está vivo. Cada vez mais.


Rudiney Freitas