Não deve ser novidade para ninguém o aumento exponencial de nosso acesso a diversos tipos de conteúdo, independentemente do formato dessas informações ou a plataforma de veiculação. O crescimento dos smartphones, por exemplo, é um fator importante para compreender a expansão informativa e o aumento da velocidade de comunicação.
Tomemos um exemplo: de acordo com estimativa da Fundação Getúlio Vargas, feita no mês de abril do ano passado, o Brasil possuiria pelo menos um aparelho celular para cada habitante do país até o fim de 2017. A pesquisa estimou que o número de aparelhos em uso alcançaria 208 milhões, enquanto o país possui cerca de 207 milhões de habitantes.
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Apesar das vantagens que esse aumento tecnológico trouxe, é claro que um crescimento tão grande em um tempo tão curto poderia trazer problemas. Assim como tecnologias de décadas passadas influenciaram a sociedade de uma forma gigantesca pelo impacto que criaram, as atuais permanecem mudando a forma do ser humano enxergar o mundo, seja para melhor ou pior.
"A quantidade de informações que recebemos diariamente nos colocou em uma situação bem delicada. Nosso limite de processamento de informação chegou ao limite, e não estou falando do limite de armazenamento do cérebro, mas da capacidade de recuperação e uso das informações armazenadas", pondera Ricardo Cappra, cientista de dados e entusiasta das novas tecnologias.
O que o cientista afirma é um reflexo do que pontuou o escritor norte-americano Alvin Toffler, em seu livro "Future Shock", lançado em 1970. De acordo com Toffler, o ser humano chegaria à exaustão devido a uma overdose de informação, e não mais conseguiria tomar decisões lúcidas acerca do conteúdo que iria consumir. Para síntese, o autor deu à ideia o nome de "infoxication".
Já a psicóloga Cristiane Martin enxerga os malefícios pelo lado emocional, que são causados pelo descontrole entre o mundo virtual e o real. "O vício [em tecnologia] gera uma solidão emocional, pois a pessoa só está preenchida enquanto está conectada com a outra. Após se desconectar, esse tipo de relação gera um impacto muito negativo para o indivíduo e, consequentemente, desenvolve quadros de transtornos depressivos, transtornos ansiosos e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)".
Ainda de acordo com a psicóloga, o fato de as redes sociais mostrarem os usuários em estado contínuo de felicidade e viajando em grande parte dos momentos, contribui para alguns quadros depressivos de quem observa, pois a pessoa imagina tudo aquilo como "um conto de fadas".
"Os algoritmos por trás das ferramentas de busca aprendem baseadas nos hábitos e rastros deixados pelos próprios indivíduos, e conforme damos 'novas instruções', ele se adapta a nova realidade, ou seja, a bolha que vivemos está sendo gerada e continuamente alimentada por nós mesmos", explica Cappra.
Torna-se cada vez mais necessária a compreensão desse fenômeno que estamos vivendo, suas consequências e nossa incapacidade de lidar com todo o fluxo de informação que recebemos de todos os lugares e a todo momento. Criar estratégias para amenizar o impacto negativo de tudo isso é uma necessidade, uma sobrevivência para um uso mais saudável da tecnologia ou, pelo menos, com mais consciência.
Sobre Rudiney Freitas
Apaixonado por livros, esportes, cinema, música, a vida e seus passageiros. No mundo do jornalismo porque gosta de se comunicar, até por sinal de fumaça.
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