gplus
   

Darren Aronofsky discute as muitas interpretações de seu filme

20/09/2017 00:00

Confira Também

Seu novo longa provocou reações viscerais no recente Festival de Veneza - o público dividiu-se aplaudindo e vaiando Mãe!. A relação de amor e ódio de Darren Aronofsky com Veneza não é recente. Em 2011, Aronofsky presidiu o júri que premiou Fausto.

"Quando vimos o [Alexandr] Sokurov, nós dissemos: 'É ele!'. Quantos filmes vi depois? Um monte! Da maioria, nem me lembro. De Fausto, guardo cenas inteira”, falou. Isso significa que Aronofsky não gosta de blockbuster? "Depende. Gosto da saga Planeta dos Macacos, e especialmente da trilogia de Matt Reeves”. E Guardiões da Galáxia 2? "É muito divertido. Prazer puro. E ainda tem aquela trilha”.

Aronofsky faz essas confidências ao repórter na entrevista realizada nesta terça-feira, dia 19, à tarde num hotel dos Jardins. Chegou pela manhã a São Paulo, deu uma coletiva e uma série de entrevistas para TV e online.

Mãe! estreia na próxima quinta-feira, dia 21, em 300 salas de todo o Brasil. Nos EUA, o fracasso foi retumbante - a pior abertura de um filme estrelado por Jennifer Lawrence. Aronofsky não finge que não se importa: "Faço filmes na expectativa de que o público venha, e goste. Não acho que tenha dado errado. Sabia, desde o início, que seria um filme mais difícil”.

Mãe! comporta múltiplas leituras -  Aronofsky está entregando um enigma para o público. A pergunta que não quer calar: versa sobre o quê? A coletiva foi reveladora - um monte de jornalistas andando em círculos, fazendo perguntas meio aleatórias, como quem atira a rede ao mar. O que vier de peixe é lucro. Ele ri da comparação. O longa é muito particular em seu processo criativo. Às vezes, Aronofsky demora anos amadurecendo um projeto. O filme foi escrito em cinco dias febris. A 'mãe' do título pode muito bem ser a Terra. "Vocês aqui em São Paulo não devem se ligar muito na devastação ambiental no Canadá. Em Nova York, onde vivo, também não saímos muito do nosso universo. Mas todos nos preocupamos com o que ocorre na nossa casa. Um hóspede que queima nosso tapete, ou nosso sofá, vira indesejável. Inesquecível. A produção é sobre isso - o que está ocorrendo com a Terra”, comentou.

Mas a coisa não surgiu assim tão simples! Jennifer Lawrence e o marido - o poeta Javier Bardem - habitam essa casa que ela está reconstruindo. A casa fica no meio de um parque, mas não importam os acessos. Tudo se passa lá dentro, e na cabeça de Jennifer. Ela não tem nome, nem Bardem, nem os primeiros hóspedes indesejáveis - Ed Harris e Michelle Pfeiffer. Mas, curioso, os créditos finais dão nome a essas figuras.

"Esclarecem quem são dentro da dimensão alegórica que o filme tem”, contou. Jennifer e Bardem isolaram-se para que ele possa voltar a escrever. Talvez fosse melhor, a partir daqui, o leitor dar um tempo e só retomar o texto depois de ver o filme. Há risco de spoiler!

Os primeiros invasores da casa - da Terra - são Adão e Eva. Trazem os filhos, que, biblicamente, Caim matou Abel. Nesse primeiro movimento, a casa é profanada. Num segundo movimento, forma-se a Sagrada Família, mas o interregno é breve - sobrevém o apocalipse. Aronofsky assume a dimensão bíblica: "O filme divide-se em partes. O Velho Testamento, o Novo, que começa com o nascimento e termina com a Paixão de Cristo.