O dia que a minha mulher foi viajar O que você faz quando sua mulher viaja por vários dias a trabalho? gplus
   

O dia que a minha mulher foi viajar

O que você faz quando sua mulher viaja por vários dias a trabalho?

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Tudo começou com a Deuzivalda (minha esposa) me dizendo “Juízo”, segundos antes de partir rumo a Cuba, a trabalho. Então eu contei até sessenta e nove, comi um iogurte vencido, dei uma demorada mijada e fiz a primeira ligação, pro Betão:

- Irmão, tá a fim de tomar uma comigo?
- Agora?
- Não, no dia em que o Keith Richards bater as botas. Claro que é agora, seu puto!
- Não posso.
- Por quê?
- Estou terminando de colorir um jardim esplêndido.
- Colorir um jardim? ESPLÊNDIDO? Como assim?
- Comprei um daqueles livrinhos de pintar, tá ligado? E estou no meio de um beija-flor cheio de detalhes, não consigo parar agora. 
- Beija-flor cheio de detalhes? Pirou, Betão?
- Pirei nada, meu velho. Colorir é muito mais desestressante do que tomar cerveja ou dar uns tapinhas na pantera.
- Ok. Vou ligar para o Fabião então. Tchau! – despedi-me puto.

- Fabião?
- Posso te ligar depois, Rica?
- Pode.
- É que a minha aula de zumba está prestes a começar.
- Zumba? 
- É! Queima mais de 800 calorias por hora, o equivalente a 8 filés de pescada branca de 100g. Não é o máximo? Aliás, por que você não experimenta?
- Tô meio sem grana, cara.
- Não tem problema, sou muito amigo do Ramón, o professor, e acho que consigo um trimestre grátis pra você. Quer?
- O outro telefone está tocando, depois falamos melhor. Abraços.
- Abraços.

- O que está rolando com meus amigos? - pensei. E liguei para o Maurício:

- Tudo certo?
- Tudo, Rica. E aí?
- Também. Vamos tomar uma cer...
- Moça, você sabe onde fica o gojiberry?
- Quê?
- Desculpa, Rica. Estava falando com a atendente do empório em que estou.
- Saquei. Então, eu liguei para saber se você tá a...
- E a linhaça, só tem da dourada?
- Não entendi.
-Estava falando com a mocinha do empório de novo, sorry. 
- Vamos tomar uma?
- Parei de beber, Rica. 
- Sério?
- É. Meu corpo é meu templo e não vou mais maltratá-lo. Nunca mais!
- Compreendo. 
- Então tá, Mau. Vamos nos ver qualquer dia desses?
- Fechou! Abraços.
- Abraços.

 - Algo muito estranho está rolando com o mundo! – concluí. E liguei para o Leo:

- Leo?
- Fala, Ricão! Como é que você tá?
- Tô bem, cara. E você? Vamos tomar uma gelada?
- Hoje?
- Já!
- Não posso, tenho uma consulta com o Dr. Tetófilo, o cirurgião que faz o melhor implante de silicone no Brasil.
- Pô, legal. Aposto que já está ansioso para dar umas buzinadas nas peitolas novas da namorada! 
- A Eduarda não vai colocar nada, eu é que vou!

Desliguei o telefone na hora, nem disse “tchau” ou “até mais”. Pensar no Leo de tetas siliconadas me deixou mudo, sem reação alguma. Logo o Leo que sempre ostentou uma parruda monocelha e que nunca teve vergonha de sair por aí de Rider no pé? Não fez o menor sentido. Nada contra caras que peitos de silica, mas o Leo?

Foi aí que avistei um estranho cartaz colado no poste que fica em frente à minha casa, enquanto eu dava uns pegas num baseado. Nele estava escrito: “Além de trazer o seu amor de volta em sete dias, coisa que qualquer um consegue, também faço reprogramações de personalidades!”. A principio, pensei que estava fumando uma erva demasiadamente power; mas depois de ler aquele cartaz mais de cem vezes, resolvi ligar para o número que estava escrito nele, da Mãe Goreti:
- Deu certo, Deuzivalda? – uma voz de comedora de farofa perguntou, antes mesmo de o meu “alô” sair de dentro de mim.
Desliguei na hora, em choque. A Mãe Goreti havia mencionado o nome da minha esposa! Ou você acha que o mundo está cheio de Deuzivaldas?
- A filha da Puta reprogramou os meus amigos! – Gritei, depois de ligar as pontas e chegar à única hipótese capaz de explicar a estranheza dos meus camaradas. Então, decido a salvar o meu final de semana sem a patroa, apertei o botão“redial” do meu telefone:
- Alô, Mãe Goreti?
- Isso – ela respondeu com timbre de desconfiada.
- Quem fala é o marido da Deuzivalda e pago o dobro do que ela pagou para que você reprograme os meus amigos – joguei um verde.
- Não posso.
- O triplo?
- Não tem como, senhor.
- O quíntuplo? 
- Fechado. Fica na linha enquanto eu faço a conta...
- Ok.
 - Pronto! Hoje é seu dia de sorte, viu? Como é Black Friday, eu posso reprogramar seus amigos por cinco mil reais. E, se quiser, ainda pode pagar metade do valor em pontos Multiplus. Que tal?
- Fechado.

Recebi os dados bancários da Mãe Goreti por e-mail e, sem hesitar, fiz um TED (para cair no mesmo dia).
Esperei duas horas – como a Mãe Goreti havia me instruído - e, para descobrir se os meus brothers já tinham voltado ao normal, coloquei todos num grupo do WhatsApp e mandei a seguinte mensagem:

- Galera, a Deuzi foi viajar e deixou o apê só pra nós!
Duas horas depois o Betão estava na porta de casa, acompanhado por três putas, duas caixas de cerveja e manchas de canetinha na camiseta. O Fabião chegou logo em seguida, portando haxixe e reclamando de dores na panturrilha. Depois veio o Mau, com uma garrafinha de uísque na mão e cantando Festa no Apê. E, por fim e para o meu alívio absoluto, chegou o Leo, de Rider nos pés e pochete na cintura. Respirei aliviado. 
Obs: no dia seguinte, depois de apagar todos os rastros da bagunça que fizemos, eu liguei novamente para a Mãe Goreti, disse que estava disposto a pagar vinte mil reais para que ela reprogramasse a minha mulher. Ela aceitou, óbvio. E foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Sabe como eu descobri que deu certo? A Deuzi, assim que chegou de Cuba, antes mesmo de me dar uma caixa de charutos e as sete garrafas de rum que comprou na terra do Fidel, falou:

- Andei pensando e acho que chegou a hora de fazermos um ménage à trois. O que acha? E vou além: gostaria que rolasse com gêmeas suecas!


Ricardo Coiro