David Luiz, o novo meme do futebol O zagueiro mais caro do mundo tem sido cobrado por falta de eficiência. É uma fase ruim ou ele não é tudo isso? gplus
   

David Luiz, o novo meme do futebol

O zagueiro mais caro do mundo tem sido cobrado por falta de eficiência. É uma fase ruim ou ele não é tudo isso?

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Cabelos à la Anderson Varejão. Munhequeira tipo de tenista, só que de esparadrapo. Esse é o naipe do zagueiro David Luiz dentro de campo. Até o fatídico 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo, esse estilão do beque da Seleção nem fedia e nem cheirava ao torcedor. Depois da goleada, porém, o molho azedou para o cabra. Perdido dentro de campo durante a partida, subindo ao ataque – e deixando crateras na defesa – e insistindo em lançamentos longos quando deveria cumprir o papel primordial da sua posição, defender, ele queimou o próprio filme. Desde então, qualquer deslize de David Luiz não passa despercebido pela geral. No último 15 de abril, o craque Luis “Vampiro” Suárez fez dois golaços na vitória do Barcelona por 3 x 1 contra o Paris Saint Germain de David, durante a Champions League. No Brasil, deu mais ibope, porém, as duas canetas que o brasileiro levou desse atacante uruguaio nos lances dos gols dele. Memes de David Luiz com as pernas arreganhadas proliferaram pela internet mais do que a dengue em São Paulo. 

Por que tamanho prazer em caçoar David Luiz? Por que ele virou alvo preferido da turma do amendoim? O zagueiro é tanto vilão e quanto vítima. Vamos por partes. É injusto colocar na conta de qualquer jogador da Seleção a desgraceira campanha no Mundial. Crucificar Fred ou David é olhar de maneira torta. Se os caras se mostraram desorganizados em campo, a conta é dos comandantes, Felipão e sua corja, que não souberam preparar o time taticamente – lembram-se como o setor de meio-de-campo do time praticamente não existia, daí os lançamentos da defesa para o pobre Fred no ataque? – e nem emocionalmente. No jogo contra o Barcelona, David retornava aos gramados depois de 10 dias parado por uma contusão. Não estava pronto, como ficou claro no jogo. Culpa dele o pífio desempenho? Nãããõ! Do treinador que mandou pra guerra o soldado remendado.

David Luiz é, hoje, o zagueiro mais caro da história do futebol. O PSG pagou por ele 50 milhões de euros ao Chelsea. Só isso já o coloca sob o holofote. Óbvio que muita gente que não vê nele talento para justificar essa fortuna vai ficar de plantão para ver se ele é isso tudo mêmu. E o problema é que David Luiz dá brecha. É um zagueiro que acredita muitas vezes ser Gérson, com o dom de lançar. Outras vezes, tenta encarnar o Beckenbauer e abandona a zaga para correr com a bola até o ataque. David é um zagueiro com crise de identidade. Talvez a zaga não seja o seu lugar ideal. Ele não se aguenta quieto lá atrás. Só que futebol é esporte coletivo, David. Não é inteligente tentar bancar o herói e se desdobrar em mil em campo. Sabe por que? Porque, assim, você parece jogar para a torcida, tentando livrar a sua pele. Se posiciona, mano! Seu ofício é marcar, porra! Minha editora Denise Molinaro deu uma carrinhada no assunto dizendo que David é o típico jogador da nova geração de craques da rede social, mais preocupado com o número de seguidores do que com o de gols feitos ou, no ofício que deveria ser o dele, evitados.

De fato, o brasileiro é o beque mais “selfeiro” da parada. Em seu Instagram é um tal de foto com ursinho, de língua pra fora, caretas e biquinho a rodo. Mano...a turma pegou bode de você! Não inspira respeito, para os saudosistas do futebol, um beque que posa demais de bom moço nas redes sociais e distribui pontapé de menos em campo. Fico imaginando um zagueiro assim, do tipo “olá, amiguinhos”, caindo no terrão da Brasilândia, onde dou minhas pedaladas. Mó goela! David, brasileiro curte zagueiro tipo Clebão, Ronaldão, Fabão, Junior Baiano, com cabelo talhado a Mike Tyson, que sue bem fedido e não Carolina Herrera. Do mesmo modo, não queremos, um capitão de Seleção que vira as costas para uma disputa de pênaltis durante a Copa, sacou Thiago Silva?, e que ao ser convocado por Dunga e ir para a reserva nesse novo ciclo afirma ser melhor ficar no banco porque teme, na sua volta, que a Seleção tome um gol e ele leve a culpa. Cadê os bago, porra!? 

Nesse quesito, sejamos justos, David não foge do pau. O cara dá a cara a tapa em entrevistas. É um tipo articulado, fala o português corretamente, o que, infelizmente, causa ciúme. O brasileiro curte aplaudir o moleque de passado paupérrimo que deu certo na vida graças ao futebol e torce o nariz para caras como David, visto como o típico filhinho de papai, criado com leite de pera e aula de inglês desde o berço. Futebol não é lugar de filhinho de papai, certo? É um preconceito semelhante ao que sofrem as mulheres que optam por seguir carreira de chuteira no pé. Afinal, futebol é coisa pra homem, certo? David, ser esclarecido é uma virtude sua. Muito menos, o seu problema está no fato de ser craque das redes sociais. Neymar é o maior expoente dessa turma egocêntrica, mas ninguém cai de pau em cima desse moleque-piranha pelo simples fato que, depois de postar suas selfies no vestiário, ele faz o seu papel direitinho em campo. David, meu querido, a conta é simples, tipo dois mais dois. Como zagueiro, marque, defenda. Se quer lançar, vá para o meio-campo. Prefere o ataque? Põe a 9 nas costas. Fecha as pernas e jogue bola!


Rodrigo Cardoso