Como a cocaína entrou em minha vida Sempre me mantive “limpo” mas, ao fim de 2015, o pó invadiu minha vida gplus
   

Como a cocaína entrou em minha vida

Sempre me mantive “limpo” mas, ao fim de 2015, o pó invadiu minha vida

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Calma. Leitores e, em especial, minha família. 

Quem me conhece sabe que estou mais para o estereótipo de homem conservador do que para um “maluco beleza”. Noves fora a cervejinha do final de semana e do vai e volta com alguns cigarros esporádicos, não costumo ter qualquer droga ou entorpecente em minha vida. Não costumava... 

Mas a verdade é que nunca escondi meu vício pela literatura. É daqueles que “bato no peito” mesmo (tempos atrás até comentei sobre esta adição em outro artigo do AreaH - veja aqui). 

E foi através dos livros (“ufa”, deve estar pensando agora minha mãe enquanto lê estas linhas) que a cocaína emplacou em minha (pacata) vida.

Tudo aconteceu com tal velocidade e de tal forma que só me dei conta tempos depois. Explico: como tenho o hábito de comprar livros um a um (ou seja, é improbabilíssimo – por mais que haja a tentação – de eu adquirir, numa única tacada, mais de uma obra) acabei notando, retrospectivamente, que enfileirei desavisadamente uma sequência de 03 ótimos livros em que a cocaína, se não é protagonista, concorreria facilmente ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. E foi, então, que me vi cercado por este viciante pó branco. E, posso garantir, fiquei viciado nesta literatura:   

A obra de Nelson Motta inaugurou minha “trilogia da cocaína” escancarando a trajetória de um dos músicos mais talentosos do país. A vida do “síndico do Brasil” é tão peculiar, tão recheada de altos (muito altos) e baixos (na mesma proporção) que, naturalmente, garante histórias curiosíssimas e interessantes. Entre um consumo exagerado de coca e muitas doses de uísque, Tim Maia vai imprimindo toda sua criatividade em frases que se tornaram célebres como “Tudo é tudo ... e nada é nada!” (?) – separamos outras 36 “pérolas” em recente artigo.

É também uma boa oportunidade para leigos, como eu, entenderem um pouco mais como funciona o difícil mundo do showbiz, além de adentrarem nas obscuras esquinas do consumo desenfreado de drogas de todo tipo. 

Sempre curti o “Casão” jogador (embora tenha entrado para a história do futebol por vestir a camisa de um time rival). Pouco gosto do Walter Casagrande Jr. comentarista. Mas passei a admirá-lo como ser humano após a leitura de sua co-auto-biografia que deflagra a luta, sincera e diária, de um homem contra o vício em cocaína (e congêneres). 

Longe de ser uma história depressiva e deprimente, “Casagrande e Seus Demônios” insere o leitor no universo de “sexo, drogas e rock and roll”. Literalmente. Com pinceladas que enchem a alma dos românticos do futebol, a leitura também transporta para o mundo da bola na década de 80, muito rico em caricatos personagens: o “doutor” Sócrates, os cartolas Adilson Monteiro Alves e Vicente Matheus, além do próprio Casão, claro.

O drama vivido pelo personagem (com relação às drogas) vai tangenciando esta trajetória do atleta e, hoje, pai e comentarista. Uma instrutiva narração sem qualquer toque de “lição de moral” contra os entorpecentes – e aqueles que se vêem no vício.

Pitada de curiosidade: muito recentemente, indo a uma reunião de trabalho identifico, a poucos metros do carro, Casagrande num almoço com (suponho) um par de amigos. Eu estava com o livro dele na mochila. Pensei seriamente em descer do veículo e pedir um autógrafo. Meu lado tiete pediu. Mas o envergonhado logo bloqueou o ímpeto e segui para a rotina de trabalho.

Após 2 livros de consumidores confessos de cocaína concluí a sequência com o “pai” da mesma, o ícone colombiano que, embora provavelmente nunca tenha consumido a droga, a fez ser inalada, nariz acima, aos borbotões ao longo das décadas de 80 e 90. 

A história contada pelo filho do lendário Pablo Escobar transita entre fúteis curiosidades do consumo da família em áureos tempos (da prataria comparada às adquiridas por famílias reais aos bordados italianos que demoravam anos para serem concluídos, tamanha complexidade) a detalhes do tráfico de cocaína que transformou o capo sul-americano em um dos 10 homens mais ricos do mundo, de acordo com a renomada Forbes.  

“Meu Pai” consegue costurar uma narrativa que horas pende ao verdadeiro drama de um núcleo familiar que teve de viver as conseqüências de estar ao lado de um dos maiores contraventores da história e, em outros momentos, vai detalhando a construção do grande império logístico que Escobar liderou (sim, ele ficou verdadeiramente milionário ao focar seus recursos e energia no transporte da cocaína – em detrimento de sua produção).

É uma história muito atual e que auxilia até mesmo a entender melhor – e se aprofundar - na narrativa da celebrada série Narcos. Com uma dose de duplo sentido, posso dizer: é viciante. 

Como um bom viciado, se você tiver alguma outra boa dica literária sobre o assunto, me escreva: Rodrigo@AreaH.com.br.


Rodrigo Moreno