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Manchester à Beira-Mar acentua o drama mas investe na sutileza

21/01/2017 00:00

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Dentro de uma indústria tão altamente padronizada quanto Hollywood, todo ano há pelo menos um filme que sai da fórmula. Ou seja, que destoa das expectativas e das estruturas normalmente seguidas no gênero a que pertence.

Este ano, este filme é o drama Manchester à Beira-Mar, em que especialmente o ator Casey Affleck parece estar-se tornando praticamente uma unanimidade nas premiações, começando pelo Globo de Ouro, o National Board of Review e associações de críticos de diversos Estados norte-americanos - além de ser considerado uma certeza no Oscar, cujos indicados serão conhecidos no próximo dia 24. O filme é também a consagração de seu diretor e roteirista, Kenneth Lonergan - embora Lonergan esteja longe de ser um principiante ou um desconhecido.

Ambientado numa cidade litorânea de Massachussets, perto de Boston, o drama se desenrola em torno de crises de identidade masculina, ancoradas no universo da família Chandler. Neste círculo, foi sempre muito forte a ligação entre os irmãos Joe (Kyle Chandler) e Lee (Casey Affleck), uma irmandade que incorpora também o filho de Joe, Patrick (quando menino, Ben O’Brien), especialmente porque a mãe do garoto, Elise (Gretchen Mol), é uma alcoólatra.

Há um corte no tempo e encontra-se Lee um pouco mais velho, trabalhando como zelador e faz-tudo para um conjunto de prédios em outra cidade. Ele é um solitário, que vive consertando os pequenos problemas dos condôminos, aparentemente sem ligações de amizade com ninguém. Parece um homem anestesiado contra sentimentos de qualquer espécie, num isolamento de que a grossa neve da paisagem parece funcionar como metáfora.

Um telefonema, avisando-o da morte do irmão, tira-o desta apatia funcional. E Lee parte de volta para Manchester, de encontro a fantasmas formidáveis, de que o filme só dará conta dentro de algum tempo.

Na outra ponta deste mundo masculino, duas figuras femininas se destacam: Elise, a mãe de Patrick, que deixou a bebida para tornar-se uma protestante devota, a partir de um novo casamento, com Jeffrey (Matthew Broderick); e Randi (Michelle Williams), a ex-mulher de Lee, com quem ele divide a imensa, irresolvível dor que atormenta seus dias.

Em poucas cenas, Michelle Williams ocupa uma porção significativa deste centro emocional do filme, já que é simplesmente a única pessoa com quem Lee compartilha uma parte de seu imenso fardo de culpa - e há pelo menos um diálogo entre os dois, depois de um encontro casual na rua, que é de uma emocionalidade devastadora, sem deixar de ser delicada.

Nada, aliás, em Manchester à Beira-Mar é derramado ou excessivo - basta a realidade da tragédia na vida de Lee e Randi. É aí que Lonergan exerce sua afinação de dramaturgo que também é, desfiando com sutileza o impasse de seu protagonista, sem visar sua redenção.

Manchester à Beira-Mar estreou na quinta, dia 19, nos cinemas brasileiros.  

Veja o trailer legendado de Manchester À Beira-Mar:


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