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Campanha revela abusos sofridos por domésticas em serviço

24/07/2016 00:00

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No último dia 19, a professora e rapper Preta-Rara criou a campanha #EuEmpregadaDoméstica para que as mulheres que trabalham como domésticas pudessem contar relatos de situações humilhantes que passaram durante o expediente.

A motivação da professora, de 31 anos, surgiu com uma lembrança. "Eu estava em casa fazendo almoço e me veio assim, como um jato muito forte na memória, essa história e resolvi compartilhar no Facebook", explica Preta-Rara sobre seu primeiro relato com a hashtag

Para ela, o mais importante de expor os relatos é acabar com a naturalização da condição que as domésticas enfrentam. "Por muito tempo nós fomos e ainda somos invisíveis dentro da sociedade", diz. É comum que as humilhações e maus tratos às domésticas fiquem dentro de casa. "Tem várias coisas que a gente naturaliza e acaba achando que é normal, mas não é normal". 

Dos 19 aos 25 anos, a rapper teve a mesma profissão de sua mãe, avó e tia na cidade de Santos, no litoral de São Paulo. Ela relembra que, antes de ser doméstica, procurou outros empregos, mas não conseguia nada. "Eu não conseguia arrumar outro emprego porque, aqui na minha cidade, como em todo o Brasil, o racismo ainda é algo que existe. Na época eu não entendia, e ainda entregava meu currículo com foto, mas a boa aparência que eles pedem nunca é negra, e nesse momento eu comecei a entregar sem foto." 

A mãe não queria que Preta-Rara tivesse o mesmo emprego que ela, justamente por causa das humilhações que já havia sofrido, mas a rapper passou por situações parecidas. "Como empregada doméstica eu tive mais tristeza que alegria. Foram poucos momentos alegres poucos momentos humanizados. Por mais que as patroas dissessem que eu era parte família, nunca era", afirma. 

Em apenas dois dias, a campanha se espalhou. A professora já recebeu centenas de relatos e, por isso, no dia 20, criou a página no Facebook Eu Empregada Doméstica que, em menos de um dia, já conseguiu mais de oito mil curtidas. "Eu percebi que o que eu passava dentro das casas das famílias, outras mulheres também passavam", relatou. 

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Reprodução

Ensino superior: um sonho

O sonho de Preta-Rara sempre fora conseguir ingressar na universidade, sonho que, muitas vezes, foi desincentivado por algumas empregadoras. "Algumas patroas me diziam que estudar não ia alterar minha condição social. Eu lembro que tinha uma que dizia 'sua mãe não era empregada doméstica? Sua avó não era empregada doméstica? Sua tia, suas primas... Então, sua condição é ser empregada doméstica e você tem de ser feliz dentro dessas condições'. Isso ela falou para mim quando eu disse que teria que sair do serviço mais cedo porque tinha conseguido um cursinho pré-vestibular porque eu queria fazer faculdade."

A única patroa que incentivou a professora a seguir seus estudos foi Regina, que a emprestou o livro Olga para que a doméstica lesse em sua casa. "Eu ficava folheando os livros dela. Eu me lembro muito bem que peguei o livro da Olga. Eu comecei a todo dia inventar que tinha que tirar pó da estante e ler um trecho deste livro. E um