Eutanásia: reflexões de um momento crítico para qualquer homem Recentemente, vivenciei um dos momentos mais difíceis que poderia imaginar: abreviar a vida de um grande amigo gplus
   

Eutanásia: reflexões de um momento crítico para qualquer homem

Recentemente, vivenciei um dos momentos mais difíceis que poderia imaginar: abreviar a vida de um grande amigo

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Calma. O que você acabou de ler não significa que cometi um ato ilegal no Brasil, país em que a prática é juridicamente tratada como crime de homicídio. O grande amigo ao qual me refiro foi meu cachorro, um companheiro de quase 11 anos que, por força de uma doença que o debilitou muito rapidamente, teve como desfecho uma abreviação de seus dias comigo e com minha família.

Historicamente, sempre fui um defensor da eutanásia, inclusive para seres humanos. Não consigo imaginar situação mais degradante e infeliz do que uma pessoa que não tenha mais esperanças clínicas de sobreviver. E, embora ainda não seja legal em território brasileiro, em meu íntimo sempre aprovei a eutanásia como solução para encurtar a dor de um paciente desenganado. Não se trata aqui de qualquer crença de caráter religioso (afinal, não freqüento templo, igreja ou congênere), mas, sim, de um desprendimento mesclado com compaixão que me faz pensar que é sempre melhor encurtar a agonia e sofrimento de alguém que, pelo menos nas leis racionais, não conseguirá estender dignamente sua vida. Em última instância, é o que eu desejaria pra mim mesmo, caso chegasse a tal situação de sofrimento. Mas – entendo plenamente – essa discussão dá pano pra manga (das longas, de inverno), com argumentos sobre milagres da medicina ou mesmo do “Mais-Além”, bem como a discussão filosófica de um homem poder decidir (ou não) sobre a continuidade da vida de um ser vivo (o que alguns sustentam que cabe somente ao “lá de cima”).

No entanto, essa minha opinião, enraizada desde a tenra juventude, não aliviou nem um pouco o peso sobre as minhas costas quando tive de decidir pela vida de meu grande companheiro. O que senti, quando o profissional veterinário me empossou de caneta e papel, foi uma cruel dúvida: devo prolongar, por mais um segundo que seja, a dor (excruciante, de acordo com a mesma veterinária) deste animal, usufruindo de sua fiel e agradável companhia? Ou será que estou me sentindo um pouco “Deus” e decidindo, a meu bel-prazer, por encurtar algo que, naturalmente, deveria durar mais tempo (ainda que fosse uma questão de dias, ou mesmo de horas)? Não minto que, naqueles instantes, titubeei. Só a sensação de tomar uma decisão errada (que, segundo o caminho que adotasse, seria irremediavelmente sem volta) me fez tremer, chorar.

Foi neste momento que procurei agarrar em minhas crenças, além do diagnóstico médico e de um pouco de sensibilidade diante de situação tão crítica. E optei por assinar o Termo de Responsabilidade pela eutanásia de meu animal de estimação.

Embora a tristeza seja iminente a todo este processo (independentemente da causa ou forma de sua morte), esta decisão apenas fez fortalecer minha crença pelo “fim planejado”, uma vez que a análise post mortem revelou que o caso era sensivelmente grave, sem cura e que o prostraria em questão de horas ou dias. Eu me senti (confesso), paralelamente, aliviado.

No final do dia, olhando o copo meio cheio, foi mais uma daquelas vivências que ajudam um homem a construir e moldar seu caráter. Aprendi


Rodrigo Moreno