A morte de Ricardo dos Santos e uma reflexão da vida que a gente leva Nós relacionamos o fim da existência às pessoas de mais idade, mas quantas pessoas como ele passaram muito rapidamente por aqui? gplus
   

A morte de Ricardo dos Santos e uma reflexão da vida que a gente leva

Nós relacionamos o fim da existência às pessoas de mais idade, mas quantas pessoas como ele passaram muito rapidamente por aqui?

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Uma briga na porta de casa, três tiros e um fim inesperado para uma pessoa que conseguia dominar a força da natureza pilotando ondas com a facilidade com a qual eu ando de bicicleta no Parque Villa Lobos.

Não é porque é trend topics que eu resolvi escrever sobre o Ricardo dos Santos, mas porque nunca estamos preparados para a morte. Existem vários tipos de tragédias, diria que todas contornáveis – exceto a morte.

Nós relacionamos o fim da existência às pessoas de mais idade e daí vem à realidade e joga na nossa cara o enterrar dos sonhos de um rapaz bonito, cheio de projetos – muitos deles não saíram do papel e o fim que enterra sonhos numa curta trajetória de 24 anos.

Quantas pessoas como ele passaram muito rapidamente por aqui? A morte não respeita idade, condição social. Alcança todo mundo, chega para todos – bons, maus, ricos, pobres, crianças, jovens, bem-sucedidos, falidos. 

Pensa na dor incurável dos pais que não conseguiram se despedir de seus filhos e me responde uma coisa: o que você tem feito com a vida que ganhou do plano superior?

Você tem cuidado da sua família, da sua saúde, dos seus amigos? Você respeita as pessoas como gostaria que elas te respeitassem? Faz para os outros o que considera justo para você também? Procura se afastar de coisas que podem tirar sua vida? Tem respeitado a oportunidade que seu trabalho te projeta? Acha que tem cuidado da sua vida como ela merece?

Agradeça seus percalços. Eles devem ser bem pequenos perto do vazio que os pais de Ricardo Santos estão sentido nesse exato momento. E que terão que carregar esse peso infinito até o fim de suas existências, ainda que lidem com isso da melhor maneira possível.

Assisti alguns vídeos da performance perfeita e divertida dele dentro dos mares. Atravessou alguns oceanos com a permissão de fazer o que gostava. E entendia. A vida passa depressa.

Você é o melhor amigo dos seus amigos? O melhor marido pra sua esposa? O melhor pai para seus filhos? O que você faz com a sua capacidade intelectual para usar sua vida a favor de algo que faça a diferença no mundo?

Como você organiza os recursos dos seus sentimentos para viver o melhor possível? Eu tenho a impressão que o policial que atirou nele nunca pensou nisso. Quem carrega uma arma precisa ter ainda mais responsabilidade sobre a vida dos outros, mas é o contrário. A vida vale um passe de metrô. Lamentável.

Com banalidade atira e tira a vida do outro. Acaba com uma família inteira. Interrompe os sonhos alheios. Pensei no suicídio assistido, a polêmica que os doentes terminais têm o direito de escolher morrer. Uns agarrados em um lançamento de medicamento milagroso, tratamentos inovadores e outros desejando sair daqui o quanto antes.

Outros bem sucedidos financeiramente, porém fracassados emocionais porque o objetivo material nunca satisfaz. Você consegue um bem material e logo vai em busca de outro.

Um abraço de rivotril para acariciar suas desgraças afetivas, mas infelizmente não encontramos na farmácia uma cápsula de verdade de 750 mg para ingerir a cada 8 horas e resolver nossas pendências internas.

A morte do Ricardo é chocante porque não combina com a vida que ele levava. Vale pra pensar que talvez estamos todos endereçando o problema a um destinatário errado enquanto somos o culpado pelo caminho que nossas vidas estão seguindo.

#RIPricardodossantos


Denise Molinaro