A revolução das coxinhas Ou é coxinha ou é fit, porra! Quando é que os humanos vão perceber que há vida além das varandas gourmets? gplus
   

A revolução das coxinhas

Ou é coxinha ou é fit, porra! Quando é que os humanos vão perceber que há vida além das varandas gourmets?

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- Alô, dogão da Topic?

- Isso. Quem me incomoda?

- É a coxinha, cara! A coxinha verdadeira, aquela que tem recheio de frango com catupa e que deixa o guardanapo transparente. Tá lembrado?

- Claro! Você deu uma bela sumida, hein? Tá tudo bem?

- Mais ou menos, cara. Na real, eu tô puto da vida!

- Por quê?

- Os impostores estão roubando o meu lugar!

- Impostores? Como assim? Que papo é esse?

- Coxinha de pato, coxinha gourmet, coxinha fit, coxinha de feijoada, coxinha doce, coxinha... Ah, véi, eu espumo só de falar delas! Você me entende, né? Você também é das antigas, mano. Ouve Motörhead e aqueles roques firmezas. Não é como essa nova geração de coxinhas que curte Justin Bieber e que tem um chilique quando fica com a pele oleosa.

- Entendo. Tanto entendo que ontem mesmo eu saí na mão com cachorro-quente que tem um nome que eu nem sei falar, truta. Um alemão todo metido a salsichudo, saca? 

- O que rolou?

- Eu passei em frente a uma rodinha deles e ouvi uns risinhos de deboche. Vários afrescalhados rindo de mim, é mole? Aí eu não aguentei e fui tirar satisfação. E você acredita que um deles, olhando-me nos olhos, teve a pachorra de afirmar que não troca ideia com hot dog sem mostarda de Dijon? Hot dog? Mostarda de Dijon? Perdi o controle na hora. Dei logo um pontapé na salsicha pálida dele e, para a minha surpresa, voou Brie pra todo lado. Que tipo de cachorro-quente leva queijo Brie? Fala sério! Palhaçada é pouco.

- E os outros, não fizeram nada?

- Claro que não! Ficaram pianinho. Acha mesmo que um ser que contém rúcula e tomate seco tem peito pra encarar alguém como eu, nascido na água de torneira e criado entre os coçadores de saco das torcidas organizadas? Nunca! Coloquei-os para correr. E, quando estavam longe, ainda gritei: “Vocês não passam de uns salsichas-moles!”.

- Aí sim! Mandou bem, maluco. Acho que eu estou precisando fazer algo do tipo, sei lá. Não aguento mais ficar esquecido, de canto, enquanto a TV dá espaço às coxinhas sem glúten, lactose, gordura e sabor. Que merda é essa? Ou é coxinha ou é fit, porra . Quando é que os humanos vão perceber isso? 

- Concordo, assino embaixo e vou além: a galera old school precisa se unir para acabar com essa palhaçada de uma vez por todas.

- Acha que outros comprariam a nossa briga?

- Tenho certeza! Tá ligado o bolovo?

- E existe alguém que não conhece o gordinho?

- A molecada leitinho com pera não conhece. Aliás, o que esperar desses pentelhos que nunca tomaram Coca-Cola em uma garrafa de vidro? Nada. Mas voltando ao bolovo, ontem mesmo ele me disse que ninguém mais aceita ele, nem em no Boteco do Jamelão. Pode isso? E vou além: o mano Frutilly já me disse, mais de mil vezes, que tá a fim de dar uma sova nas paletas mexicanas. Sem contar o pão francês que já não pode mais ver a tapioca nem pintada! 

- E como é que a gente faz para reverter isso? Alguma ideia?

- Andei pensando e cheguei a dois possíveis caminhos: o primeiro - aquele que já descartei por causa dos riscos - é invadir um daqueles espaços gourmets no qual os humanos pagam caro para serem enganados e sair distribuindo porrada, sem dó. O segundo, um pouco mais inteligente, é trocarmos uma ideia com um formador de opinião do mundo virtual e perguntar se ele pode espalhar a nossa causa.

- Não entendi muito bem. Não manjo muito desses paranauês modernos.

- Como você acha que os impostores fizeram a cabeça dos humanos? Hein? Blogueiros! A coxinha fit não era ninguém até a Lucília Diniz falar bem dela. O mesmo rolou com a tapioca: apareceu no Instagram da Pugliesi e, voilà, ficou famosa na hora. Não percebe que o mundo mudou? 

-Saquei. Aliás, tô sacando o movimento. Mas quem poderá nos salvar? Será que alguém neste mundo tão cheio de “Isso faz mal!” e “Aquilo não dá moral!” fará o nosso filme? Será que existe alguma alma boa e cheia de colesterol ruim disposta a nos ajudar por amor, apenas? Porque estou sem emprego há mais de um ano. Nem em festa infantil eu apareço mais. Nunca pensei que sentiria falta daqueles demônios piolhentos. Mas sinto, se quer saber a real. E temo pelo futuro deles, afinal, brigadeiro com pistache só pode dar merda lá na frente. Enfim, quem poderá nos defender por paixão? Quem conseguirá fazer com que os humanos percebam que um café com cocô de furão não pode custar mais do que um café sem bosta? Quem poderá avisar, ao mundo todo, que cerveja foi feita para beber e não para ser ostentada? Quem terá a coragem de avisar à humanidade que há vida além das varandas gourmets?

- Já ouviu falar do Ricardo Coiro?


Ricardo Coiro