Teto de vidro Visando projeção nacional, as bandas de abertura muitas vezes entram em verdadeiras frias. Conversamos com Kid Vinil sobre o tema gplus
   

Teto de vidro

Visando projeção nacional, as bandas de abertura muitas vezes entram em verdadeiras frias. Conversamos com Kid Vinil sobre o tema

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Definitivamente o Brasil entrou com tudo no roteiro de shows dos principais artistas do mundo. Outrora sonho de consumo, assistir ao vivo ícones da música como Paul McCartney, Madonna, U2 e até mesmo o rabugento Bob Dylan não são mais coisas que acontecem apenas uma vez na vida, pelo contrário. Porém, como sempre, alguns problemas desembarcam junto com guitarras e amplificadores, as famosas bandas de abertura. 


Criadas para fazer uma espécie de 'esquenta', estes conjuntos, em sua maioria em início de carreira, carregam o duro fardo de entreter fãs sedentos pela atração principal. O resultado: do céu ao inferno em menos de cinco minutos. Para falar sobre este assunto que divide opiniões, especialmente entre os fãs, conversamos com Kid Vinil, entre outras coisas, cantor, radialista e apresentador de televisão. 

Prática muito comum tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, os shows de abertura, como foi dito, foram idealizados para preparar o público para atração principal e também divulgar o trabalho do conjunto perante uma plateia maior. Para Kid Vinil, a coisa não funciona no Brasil por dois motivos, primeiro, só se fala do show principal e segundo, a ansiedade latina dos fãs.

"No Brasil sou contra, pois geralmente anunciam sempre a banda principal e todo mundo vai na expectativa de ver a banda, ninguém vai pra aguentar uma abertura, são poucos os que conseguem entreter o publico antes da atração principal," explica Kid Vinil. O crítico musical continua e diz que por ele, esse tipo de show não existiria. "É difícil entreter um público que aguarda a atração anunciada. Pessoalmente, não conheço nenhum meio eficiente pra isso, o melhor mesmo é cair fora caso não esteja agradando", completa.

Roubada 

Ao longo dos anos muitos artistas de renome entraram nas chamadas frias, talvez o caso mais conhecido seja o do músico Carlinhos Brown, que foi convidado para se apresentar antes do Guns N' Roses, sucesso nos anos 80 e 90. Sobre estes episódios, Kid Vinil é sucinto. "Tem que ter o famoso 'semancol' e não entrar nesse tipo de roubada," decreta.

O que aconteceu no 'Rock in Rio III' foi uma tremenda bobeada dos organizadores. A diferença de estilos entre Brown e a banda do marrento Axl Rose é gigantesca, em consequência o perfil do público, que na ocasião era tomado por fãs do Guns. O resultado desta sucessão de erros foram garrafas, frutas e muitas vaias para Carlinhos Brown, que mesmo assim resistiu.

Há pouco tempo, quando Bon Jovi desembarcou no país com sua turnê, o grupo de rock Fresno foi o escolhido para abrir os shows de São Paulo. Famoso principalmente entre os mais jovens, a banda gaúcha não fez sucesso e irritou bastante quem estava lá para ver o romântico cantor norte-americano. 

Brasil e o resto do mundo 

Apesar de todos os problemas, como os ingressos caros, uma coisa não se pode negar, poucas coisas são mais intensas do que uma plateia brasileira. Já é rotina encontrar declarações de artistas de peso embasbacados com a intensidade e participação do público brasileiro durante um show. Trunfo para os grandes, este sangue quente pode atrapalhar ainda mais os responsáveis por abrir o espetáculo. 

Levando tudo isso em conta, Kid Vinil diz que artistas importantes não devem ter bandas de abertura. "Não adianta enfiar goela abaixo qualquer outra coisa se o publico foi lá pra ver Iron Maiden, por exemplo. Certo foi Paul McCartney no Pacaembu (primeiro show da carreira do ex-beatle na cidade, em 1993), era só ele. Aliás, eu me pergunto: quem teria culhão para subir naquele palco antes de Paul McCartney?" 


As características de cada público são tão diferentes que bandas desconhecidas e que hoje dominam o cenário internacional, se projetaram graças aos shows de abertura. Um exemplo disso é o Kasabian, que excursionou com o Oasis em sua turnê de 2005 e hoje é considerado um dos principais grupos do cenário internacional, tendo se apresentado inclusive no Brasil. "Lá fora a coisa é diferente, geralmente são festivais ou existe uma tradição de uma banda grande lançar outra menor e colocando-a pra abrir o show, o público respeita. É uma situação complicada," encerra. 

Amadas ou não, é preciso reconhecer a coragem das bandas de abertura, pois nunca é fácil chegar como 'bico' na festa. Afinal, quem não tem teto de vidro?