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Carro, ônibus, motocicletas. Existe espaço para pedalar nas grandes cidades? Conversamos com quem vive no meio para descobrir

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Com uma frota de sete milhões de veículos, São Paulo recebe cerca de 27 mil novos carros todos os dias. Em função disso, coisas aparentemente banais como uma simples chuva, por exemplo, podem causar recordes de congestionamento. Para driblar este problema e fugir do trânsito caótico da metrópole, muitas pessoas aderiram ao ciclismo urbano, deixaram o temor de lado e substituíram o carro pela bicicleta, que é usada para tudo, ir ao trabalho, fazer compras e também para o lazer. Entretanto, com a falta de planejamento e investimento em transporte público, o trânsito se tornou ainda mais complicado e mata cada vez mais pessoas, inclusive os ciclistas. 


"Pedalar em si não é perigoso. O perigo reside em dividir as ruas com motoristas velozes e impunes. Esse é o perigo. Particularmente, eu sempre pedalo de capacete, mas sou contra a obrigação deste, pois nada te salva se um carro lhe atropela em alta velocidade," é o que diz a jornalista Renata Falzoni, uma das principais entusiastas do chamado ciclismo urbano. 

Convivência

Poupar tempo, dinheiro e também contribuir para a melhora da qualidade de vida parece uma fórmula infalível. Não há dúvidas que ninguém gosta de permanecer horas e horas preso dentro do carro em intermináveis filas, por isso o uso da bicicleta como alternativa parece natural, mas a história não e tão simples assim. As principais cidades brasileiras foram planejadas para receber apenas carros e ônibus, no máximo motocicletas (que já enfrentam muitas dificuldades), o que eleva os riscos de quem resolve sair pedalando por avenidas movimentadas. Porém, os ciclistas urbanos, pessoas que optaram por deixar o carro de lado, garantem que pedalar não é arriscado, o problema é a falta de orientação. 

Pedalando pelas ruas da capital paulista há quase duas décadas, o paulistano de 37 anos André Pasqualini ressalta que a atitude dos motoristas mudou bastante nos últimos tempos. "Pedalo em São Paulo desde 1993 e é sensível a mudança que vem ocorrendo no comportamento dos motoristas. Aliás, uma pesquisa da Nossa São Paulo (entidade que fornece informações sobre o Estado) constatou que cerca de 90% da população gostaria de pedalar (seja como transporte ou lazer), mas muitos não fazem por medo. Por isso os ciclistas precisam se unir para ajudar as pessoas a vencer seus medos."

André ressalta que depois de acidentes emblemáticos como os que aconteceram no mês de março, onde cinco ciclistas morreram atropelados no mesmo dia no Brasil, o temor das pessoas aumenta. "Ocorre que depois de um acidente com tanta repercussão como o da Julie (jovem que morreu atropelada por um ônibus na Avenida Paulista, em São Paulo), aumenta a sensação de medo nos ciclistas iniciantes. Mas quem pedala sabe que não vivemos essa guerra tão alardeada na internet ou em algumas reportagens da TV," explica. 

Para Renata Falzoni, o cenário só vai se alterar quando as leis forem cumpridas. "O que é cultural é a impunidade. Quem atropela no Brasil nunca paga como crime e sim como ‘acidente’, isso tem que mudar. A política pública desenha as cidades para favorecer a circulação de veículos automotores. A cidade é desigual e as rotas dos pedestres e ciclistas não é desenhada, sinalizada, defendida," salienta. 

Segurança e preparo 

Pelos motivos citados acima fica claro que pedalar entre carros, motos e ônibus não é tão simples assim. Justamente por isso, o investimento do poder público em ciclofaixas é indispensável para que o ciclista ganhe confiança e tenha mais segurança. 

"Eu comecei usando a bicicleta como lazer, transporte foi consequência. Investimentos na bicicleta como transporte é algo demorado e que tem que ser feito com muito planejamento. É importante que a prefeitura invista na bicicleta como lazer, pois é nas ciclofaixas que os ciclistas ganham habilidade, condicionamento e principalmente perdem o medo para poder usar a bicicleta no dia a dia," argumenta André Pasqualini. 

Sobre o tema a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), por meio de sua assessoria de imprensa, exaltou a ciclovia de Moema (bairro da zona sul de São Paulo) e afirmou que de acordo com pesquisa realizada em dezembro de 2010, cerca de 92% dos ciclistas utilizam o espaço nos horários de pico. Todavia, o órgão disse não ter um responsável específico para tratar do tema. 

Outro assunto que causa polêmica é o uso do capacete. Uma parcela dos ciclistas afirma que o acessório é indispensável, por outro lado, uma corrente garante que ele não é fundamental para o cliclista urbano. "Eu sempre pedalo de capacete, mas sou contra a obrigação deste, pois nada vai lhe salvar se um carro te atropela em alta velocidade. Por causa da velocidade que imprimo, corro o risco de levar uma queda, por isso uso o capacete. Apetrechos de segurança são luzes pisca-pisca, na frente e atrás e claro, bom senso e motoristas que cuidam de você," opina Renata. 

Por sua vez, Paulo de Tarso Martins, arquiteto e urbanista e membro do Sampa Bikers, clube de ciclistas da capital, defende o uso do capacete. "Pessoalmente, eu não consigo sair de bike sem o capacete e faço a maior campanha a favor. Acho que no momento a principal luta é conseguir respeito, mas se todos usarem capacete melhor, porque não é enfeite, está protegendo sua cabeça, sua vida," diz. 

Cycle Chic 

Para tornar a bicicleta ainda mais popular e atraente, as empresas estão entrando na onda do chamado cycle chic, que nada mais é do que a moda dos ciclistas. São bicicletas transadas e entre outras coisas podem até ser dobradas em várias partes. 

"O conceito de bicicleta urbana está crescendo e as grandes marcas estão investindo na linha. Bicicletas com o quadro baixo, onde uma mulher de saia não precisa erguer a perna para subir nela como se montasse num cavalo, mas apenas passar por sobre o quadro, são exemplos disso," conta André Pasqualini.  

Adepta dos modelos mais esportivos, Renata Falzoni ressalta que o importante é se sentir confortável. "A bicicleta é um universo imenso de pura liberdade. Não há regras a serem seguidas no quesito modelo e estilo. Existem os ciclistas que pedalam por esporte, outros por lazer, outros para trabalho, e nesse universo dos que se locomovem pela cidade, existem aqueles que precisam estar em roupas mais chiques e preferem bicicletas com personalidade e design."