gplus
   

Caso Abdelmassih dá recado grave à sociedade, diz psicóloga

23/06/2017 00:00

Confira Também

Se é possível determinar a brutalidade de um estupro, basta dizer que ele é usado historicamente como uma arma de guerra que vai além da destruição física do inimigo. O crime atinge primeiro a própria mulher, seu desejo e a transforma em um sujeito sem possibilidade de escolha. Ela se torna um objeto, é dessexualizada. Não interessam ao agressor a vontade ou as emoções da pessoa, que vira algo para a simples obtenção de prazer.

Depois, a violência sexual afeta os outros, através dos laços amorosos: a família, o marido ou companheiro, as amizades. A degradação do valor feminino também põe em dúvida a própria palavra da mulher, sob uma pecha de moralidade da sociedade, que tenta procurar na vítima a culpa por ter sofrido o crime hediondo. Mesmo no âmbito judicial, ela é obrigada a repetir diversas vezes o que aconteceu, constrangida a retomar o assunto dilacerante até que os fatos sejam esclarecidos. Muitas vezes o silêncio parece melhor, pois continuar falando amplia o peso do julgamento alheio.

É assim que a professora de psicologia Miriam Debieux, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Política na PUC-SP e do Laboratório Psicanálise e Sociedade da USP-SP, define o impacto do crime cometido contra ao menos 36 mulheres pelo ex-médico Roger Abdelmassih, entre 1995 e 2008, na clínica luxuosa de reprodução assistida que ele possuía em São Paulo.

O agressor foi condenado, em 2010, a 278 anos de prisão. Pouco antes de fugir do Brasil, em 2011, gozava de habeas corpus concedido pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Sua pena foi reduzida a 181 anos em 2014, ano em que foi preso. Na última quarta-feira (21), por causa de problemas de saúde, Abdelmassih conseguiu uma autorização judicial para cumprir parte da sentença em regime de prisão domiciliar.

Impunidade repete sofrimento da vítima

Vanuzia Lopes foi atacada pelo ex-ginecologista em 1993, na terceira vez que foi ao consultório - o procedimento do estuprador era dopar as pacientes e depois violentá-las. O casamento dela acabou pouco depois do crime.

“Eu fiquei quatro anos com síndrome do pânico, presa em casa. Engordei para 150 quilos, só de nervoso e tristeza. Hoje eu já me recuperei, mas agora, de ontem para cá, o pânico voltou. Vou ter que tomar medicação”, disse Vanuzia logo após a notícia sobre a prisão domiciliar, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena no programa 90 Minutos, da Rádio Bandeirantes.

Vanuzia mora em Portugal porque tem medo ser atacada novamente por Abdelmassih ou por pessoas ligadas a ele. Ela é moderadora do perfil no Facebook que recolhe denúncias contra o ex-médico para levá-las à Justiça. Em um vídeo na rede social, ela contou que recebeu várias ligações nesta semana de outras vítimas amedrontad