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Questão de pele

Saiba mais sobre a circuncisão, cirurgia que retira a pele da cabeça do pênis, e que virou arma no combate à AIDS na África

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Recentemente, a Organização das Nações Unidas divulgou o relatório anual sobre a AIDS no mundo. Segundo dados da Unaids, órgão ligado a ONU que realiza balanços e pesquisas sobre a doença, são 34 milhões de pessoas infectadas com o vírus HIV no planeta. No Brasil, conforme números de 2011 do Ministério da Saúde, são mais de 600 mil pessoas com AIDS.

Desde os anos 1980, quando surgiu, a AIDS mudou o comportamento da sociedade em relação ao sexo. Informação e, principalmente, prevenção são armas fundamentais para se combater a doença. O método mais eficiente contra o vírus continua sendo o uso da camisinha. 

Uma das recentes descobertas sobre prevenção diz respeito à circuncisão, que é a retirada do prepúcio do pênis (a pele que encobre a cabeça do “menino”!). Antes de falarmos sobre saúde, é bom lembrar que em algumas religiões, como o judaísmo e o islamismo, a circuncisão é um rito de passagem muito importante para o homem e realizada logo no início da vida.

Voltando ao assunto, pesquisas revelaram o que até então era suposição dentro da comunidade médica mundial. Depois de três estudos realizados na África, se concluiu que fazer circuncisão diminui em até 60% a chance de se contrair o HIV. Sim, 60%! Homens que fizeram circuncisão têm 60% menos risco de infecção do que os que não fizeram.

Os números são muito expressivos. O que nos leva a rápida e mais óbvia conclusão: os homens têm de fazer circuncisão para ajudar na prevenção da AIDS. Bom, não é bem assim. Para esclarecer os fatos e tirar outras dúvidas em relação ao assunto, conversamos com o urologista Sidney Glina, do Hospital Ipiranga, em São Paulo.

Glina confirma os estudos e diz que as conclusões são verdadeiras. “O vírus HIV gruda em uma camada de células que existem no prepúcio. Então, quando você tira (a pele), você diminui a aderência do vírus. São trabalhos publicados e verdadeiros. Tanto é verdade que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está patrocinando, na África, uma grande campanha para fazer circuncisão”, revela o médico, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

A rápida e óbvia conclusão (todos os homens têm de fazer circuncisão), então, é correta, pergunto. Glina diz que a cirurgia deverá se tornar quase que obrigatória somente em lugares do mundo com altos índices de infectados, como a África. Além da OMS, existem outras organizações que promovem mutirões de circuncisão no continente africano.

Desde 2008, a Population Services International (PSI), dos Estados Unidos, já realizou a circuncisão em 60 mil homens em países como Quênia, Suazilândia, Zâmbia, Botsuana e Zimbábue. O fundador da Microsoft, Bill Gates, também financia campanha para a cirurgia na África.

A iniciativa gera polêmica. Há grupos contrários a se fazer a cirurgia em massa, porque traz a percepção de que o homem circuncidado está protegido. A organização americana Intact America (IA) diz que a promoção da circuncisão também expõe as mulheres a mais riscos de infecção, não somente da AIDS, mas também de outras DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

Fora da África, em regiões com índices menores de contaminados pelo HIV, a questão deve ser tratada sob outro ângulo. Segundo Glina, não é real a visão de que todo homem, em todo lugar do planeta, deve ser circuncidado.

“No mundo ocidental, há um problema. Os grupos que trabalham com as campanhas de prevenção de AIDS ficam muito preocupados com essa história de se fazer a circuncisão para resolver o problema da transmissão da doença. Há um medo de que a disseminação da cirurgia traga o comportamento de risco de novo. Por isso que não é uma coisa fácil de trazer para o Ocidente. Na África, é diferente. Na Suazilândia, por exemplo, morreu mais de 40% da população masculina por causa de AIDS”, lembra.

Pergunto, então, se ele recomenda a cirurgia aos homens. Normalmente, a circuncisão é realizada em casos de fimose, em que a pele impede a exposição da cabeça do pênis e gera vários problemas ao homem, inclusive no momento do sexo.

“Eu recomendo em casos específicos. No Brasil, no Maranhão, por exemplo, você tem mais câncer de pênis do que câncer de próstata. Câncer de pênis está relacionado com falta de higiene. A gente sabe que se você fizer a circuncisão até os quatro anos de idade, diminui muito a incidência do câncer de pênis. Então, teoricamente, em um lugar como o Maranhão, todas as crianças deveriam fazer circuncisão. O indivíduo que lava o pênis, que se cuida, que não tem um comportamento de risco, não tem problema. Você não precisa fazer a cirurgia em uma população que se cuida. Só faz se precisar”, conclui Glina.

Para terminar, Glina dá dicas e fala quais cuidados extras os homens que não são circuncidados devem ter com o “menino”.

“Basicamente, é higiene. Lavar o pênis com água e sabão. Por exemplo, o camarada transou, não deixa ficar com secreção, tem de lavar. Tem homem que tem o costume de urinar com o prepúcio para frente, então cai urina e acaba contaminando, com micoses e infecções. Mas, se você lava direito, se consegue puxar a pele para trás e faz uma boa higiene, diminui muito a chance de pegar qualquer infecção. Além disso, se não tiver comportamento de risco e usar preservativo, diminui muito a chance de ter AIDS”, finaliza.

Fazer ou não fazer a circuncisão, eis a questão. O AreaH espera que tenha esclarecido as dúvidas em relação ao tema. Cabe a você tirar as próprias conclusões. Para terminar, sempre é bom dar o recado: contra a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, não pense duas vezes. Camisinha nele, cara!

Para mais informações, acesse:

- www.aids.gov.br/

- www.sbu.org.br/home/

- www.unaids.org/