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Alerta azul

Jovens brasileiros têm usado cada vez mais remédios para disfunção erétil. Saiba riscos e consequências

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Em post de janeiro, o sempre irreverente Xico Sá escreve em seu blog sobre a popular brochada ou broxada, “como admitem os dicionários”, lembra ele. No texto, o escritor e jornalista questiona a imposição do desempenho perfeito do macho na cama. E fala sobre como os remédios contra a impotência sexual alteraram a equação da transa.

“Tempos chatos estes da felicidade química a qualquer custo”, decreta Xico. Ele lembra que as mulheres não sabem mais se a noitada inspirada do macho foi obra da paixão ou da pílula milagrosa. “Acabou aquele suspense, hitchcockianismo do amor, diante da possibilidade de um retumbante fracasso na cama”.

“Com as tais das drogas novas, o camarada é capaz de ficar excitado até num velório. Morte de parente próximo. Qualquer coisa que se bula é motivo para o assanhamento”, escreve Xico, com muito bom humor. Ao final, reconhece que os “vovôs” merecem o milagre dos remédios, mas determina: aos jovens, somente “a pílula do destemor e da coragem”.

Bom se fosse assim, caro Xico. Mas, os tempos são de eficiência plena. O cara precisa ser o melhor em tudo: no trabalho, no futebol, na balada e na cama. A falha é imperdoável. No sexo, então, é a morte. O macho não pode broxar. Nunca. Dentro desse contexto, os remédios para disfunção erétil viraram muleta. É o “doping do sexo”.

Pesquisa de 2008, realizada pelo Mosaico Brasil, em parceria com a Pfizer (laboratório que produz o Viagra), aponta que os jovens estão insatisfeitos com a qualidade do sexo e o desempenho na cama. O estudo, que mapeou o comportamento afetivo-sexual dos brasileiros naquele ano, teve 8.237 participantes (4.206 homens e 4.031 mulheres), de 10 capitais do País: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá, Manaus, Salvador, Fortaleza, São Paulo.

Segundo os dados do levantamento, 22,1% dos paulistanos, 27,6% dos cariocas e 24,7% dos mineiros, com idade entre 18 e 25 anos, perceberam uma piora na qualidade de ereção com o passar do tempo. Logo, estão usando mais medicamentos contra a broxada. Primeira noite com uma mulher? Toma logo a “azulzinha”, como ficou conhecido o Viagra, o primeiro e mais famoso remédio contra a disfunção erétil.

Impressionar as mulheres na primeira transa, aliás, é o principal motivo para jovens usarem os remédios. O problema é que o uso vira rotina. A cada nova mulher, a cada nova primeira noitada, mais uma pílula. É aí que mora o perigo. Porque o cara fica viciado psicologicamente.

“Eu vejo muita gente em consultório, que começou a tomar com 18, 19 anos, e com 25 eles voltam, porque dizem que não conseguem mais funcionar sem remédio. É um vício psicológico. Em muitos casos, eu encaminho para um psicólogo, porque ele tem de aprender a confiar na própria ereção. Ele vai tratar a causa da insegurança e vai melhorar o problema”, conta Sidney Glina, urologista do hospital Ipiranga, em São Paulo.

Glina conta que há três tipos de homens que usam os medicamentos contra a impotência. Os pacientes que realmente têm problemas e precisam usar. Alguns homens que, segundo o urologista, são seguros sexualmente e tomam de vez em quando para dar uma “turbinada”. E a grande maioria, que toma por medo de falhar.

“Você tem um bando de homens, e os jovens se enquadram, que tomam para disfarçar uma insegurança. Eles têm problema com ereção, têm medo de falhar e tomam o remédio”, afirma, reiterando o risco de um vício psicológico.

Na teoria, somente quem tem problemas de ereção deveria usar os remédios. Esses pacientes têm impedimentos físicos para ter e manter uma ereção, como a falta de produção de hormônio masculino, diabetes de longa data, problemas vasculares ou até outros medicamentos que atrapalham, como remédio para pressão alta ou antidepressivos. No entanto, como já foi dito, essa não é a realidade.

Além do Viagra, Cialis (Eli Lilly) e Levitra (Bayer) são os outros medicamentos disponíveis no mercado. O AreaH entrou em contato com os três laboratórios para obter mais dados sobre a venda e o uso dos remédios no Brasil. Infelizmente, por política das empresas, não conseguimos números sobre nenhum deles.

A Pfizer enviou a pesquisa do Mosaico Brasil, além de um comunicado sobre o uso do Viagra. O documento diz que o “Viagra é um medicamento de venda sob prescrição médica, indicado para tratar a disfunção erétil (DE), que se entende como sendo a incapacidade de atingir e/ou manter uma ereção suficiente para um desempenho sexual satisfatório”.

Além disso, o laboratório diz que não indica o remédio sem prescrição médica. “Para jovens saudáveis, sem problemas de ereção, o medicamento para DE não traz benefícios”, lembra. E finaliza dizendo que problemas de ereção em jovens devem ser tratados de forma terapêutica.

Já a Eli Lilly disse que o Cialis é, desde 2006, líder de vendas no Brasil em valor, na categoria de medicamentos para disfunção erétil. Sobre o uso recreativo, a empresa disse que o remédio “é indicado, exclusivamente, para o tratamento de pacientes com disfunção erétil leve a grave. O Cialis nunca foi estudado em pacientes sem disfunção erétil. O uso recreacional (por pacientes sem diagnóstico correto de DE) não é clinicamente indicado e, portanto, não é apoiado ou promovido pela Eli Lilly.”, esclarece.

O uso de remédios contra impotência não traz grandes riscos à saúde do homem, salvo algumas exceções já citadas. No entanto, as consequências psicológicas, como bem lembrou o urologista Sidney Glina, podem ser graves. Portanto, amigo, faça como recomendou Xico Sá: pílula? Só “a do destemor e da coragem”. No máximo, um ovo de codorna ou amendoim...

 

Para saber mais

 

- Sociedade Brasileira de Urologia - http://www.sbu.org.br/home/