O eterno fantasma da traição As forma de nos relacionarmos afetivamente está passando por uma revolução. Como isso afeta nossa maneira de encarar a fidelidade? gplus
   

O eterno fantasma da traição

As forma de nos relacionarmos afetivamente está passando por uma revolução. Como isso afeta nossa maneira de encarar a fidelidade?

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O mundo está em constante processo de mutação e com ele mudam também a forma como as pessoas se relacionam. Há menos de 10 anos, cutucar alguém seria considerado rude e não uma forma de approach. E, apesar de vermos, sentirmos e praticarmos essas mudanças, nem tudo é aceito facilmente e sem questionamentos. No campo das relações afetivo-sexuais, que muitos especialistas dizem estar passando uma revolução, as indagações em torno da infidelidade, por exemplo, parecem ser eternas. O que é traição? Por que os homens traem? Por que as mulheres traem? E por aí vai...

Para entender melhor o que muda nos conceitos de fidelidade, monogamia e relacionamento, conversamos com quem pesquisa a fundo sobre o tema e escreve sobre isso: a psicanalista Regina Navarro e a antropóloga Mirian Goldenberg.

Definições
Cada vez mais pesquisas mostram as mulheres se equiparando aos homens no quesito traição, talvez elas realmente estejam traindo mais ou simplesmente assumindo com mais facilidade, mas a questão é que a infidelidade não é mais um privilégio masculino. Apesar disso, cada gênero tem uma opinião diferente do que é traição e dos motivos que os levam a ela.

Em mais de 20 anos de pesquisa sobre o tema, Goldenberg pode observar que “homens acreditam que a infidelidade tem relação com o sexo. Já para as mulheres, qualquer quebra de compromisso pode ser uma infidelidade. Muitas acham uma traição se o marido tem uma relação virtual ou um interesse por outra mulher.”


Os motivos para trair que seus pesquisados apresentam também diferem e acordo com o gênero. Os homens justificam sua infidelidade dizendo que faz parte da natureza masculina, instinto, oportunidade ou por simplesmente terem sentido vontade, tesão por outra pessoa. Enquanto as mulheres, como diz a pesquisadora em seu livro “Infiel - Notas de uma antropóloga”, apresentam uma resposta diferente: elas afirmam traírem por estarem insatisfeitas com os parceiros, vingança, não se sentirem desejadas, para levantar a autoestima ou por falta de amor.


As diferentes posições de homens e mulheres em relação à infidelidade encontram justificativa na criação diferente que receberam e ainda recebem, apesar das grandes diferenças que ocorreram da revolução sexual para cá. Goldenberg explica: “Na nossa cultura, as mulheres são ensinadas a terem um único parceiro e almejam serem as únicas. Já os homens são ensinados a separar sexo e amor, a mulher da casa da mulher da rua, a menina para casar e aquela para se divertir. São estimulados a terem muitas parceiras durante a vida.”

Mas Regina Navarro tem uma visão diferente e acredita que a infidelidade masculina e feminina tem um ponto em comum: “A maioria das pessoas tem relações extraconjugais porque variar é bom.” A autora de "A Cama na Varanda" não acredita que as mulheres traem apenas se houver um problema no relacionamento ou um envolvimento emocional com outro homem que não o parceiro. “As mulheres também fazem sexo por prazer.”

Amor, exclusividade e valorização da fidelidade
Mirian afirma que vê uma maior valorização da fidelidade atualmente. “As pessoas podem casar, separar, são mais independentes. Quando estão juntos, sabem que é uma escolha e não uma obrigação. Portanto, esperam que o outro seja fiel ou se separe e busque outra relação mais satisfatória. Encontro entre os meus pesquisados que a fidelidade é o principal valor, pois simboliza que o outro é único, especial, insubstituível.”

Mas para Regina essa valorização não é benéfica: “As pessoas sofrem muito quando descobrem que o parceiro teve uma transa extraconjugal. É bobagem!”

A psicanalista aponta como vilão e causador do sofrimento a expectativa que as pessoas criam de que vão se completar, vão ser um só, sem necessidade ou espaço para outros, ou seja, serão exclusivos. “A fidelidade gera muito sofrimento. É uma grande obsessão. Homens e mulheres não deviam se preocupar se o parceiro transou com outro - se a pessoa quiser uma transa, vai ter de qualquer jeito. Deviam, sim, se fazer duas perguntas: Me sinto amado? Me sinto desejado? O que o outro faz quando não está comigo é problema dele.”

O futuro
Como dissemos, as coisas estão mudando. Regina diz que cada época tem uma forma diferente de amor, o atual é o romântico, mas existe agora uma busca pela individualidade que ate de frente com o amor romântico, com a ideia da união dos parceiros como um só. “Ele começa a deixar de ser sedutor e, ao sair de cena, leva com ele a exclusividade. Abre-se espaço para novas formas de relacionamentos amorosos.”

Entre essas novas possibilidades existe o poliamor, que a psicanalista até acredita que pode vir a predominar em algumas décadas. Os poliamorosos recusam a monogamia como uma necessidade e acreditam que é possível ter relacionamento amorosos com mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

Apesar disso, Mirian vê no universo que pesquisa, as camadas médias urbanas, uma preferência pela relação monogâmica. E, mesmo que os relacionamentos menos moldados predominemem, ainda existirão regras (“Não conheço casamentos totalmente abertos, sem regras” ), e quando um quebras as regras, o outro se sente traído.