Os homens e o medo de revelar fraquezas Estudos apontam que a mulher chora quatro vezes mais do que o homem, mas isso não significa que elas sofrem mais que a gente gplus
   

Os homens e o medo de revelar fraquezas

Estudos apontam que a mulher chora quatro vezes mais do que o homem, mas isso não significa que elas sofrem mais que a gente

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Seus camaradas babam ovo para você. Nada mais lógico, afinal é o cara de vida perfeita e desejada por muito marmanjo mundo afora. E assim o é porque você pinta esse autorretrato como ninguém. Sente prazer em contar suas peripécias sexuais, sabe preparar bem o terreno para afirmar suas posições financeira e intelectual acima da média e ostenta, ah!, como curte ostentar. Nenhum mal o cara ser bom de cama, ter grana, andar de carro importado, enfim, brincar de felicidade extrema. Mas me diga aí: você tenta se firmar no meio da turma, conseguir atenção, favores e privilégios pelo que tem ou pelo o que é? Pergunto isso porque vejo cada vez mais parceiros que, aparentemente, tudo pode, tudo tem, queixando-se da falta de amigos para expor as feridas da alma

Dor Feminina x Dor Masculina

Homem é um bicho besta que desde que abriu o berreiro pela primeira vez é lobotomizado a não revelar suas fraquezas. Falar dos sentimentos não cabe em sua condição. A maneira como somos ensinados a brincar e a tratar o outro na fase pueril de nossas vidas ainda hoje reforça uma virilidade que não fortalece os músculos do coração. Estudos apontam que a mulher chora quatro vezes mais do que o homem. Isso não significa, porém, que elas sofrem mais que a gente e sim que a cultura não permite que nós, homens, choremos. É a porra do discurso: “Homem não chora. Engole esse choro, moleque!” 

O erro de sofrer em silêncio

Quer ver outra parada que, apesar de muitos negarem, rola direto? A gente ainda fica desconfortável quando um amigo nos procura para confessar, só para citar um revés sentimental, que ainda pensa muito na mulher que o traiu. Sabe por que é assim? Porque a sociedade ainda não acolhe bem um homem que procura outro para rasgar o peito e pôr para fora o que o faz sentir dor. Presos a essa bobajada, sofremos em silêncio e não aproveitamos a experiência do compartilhamento.  

Quer uma dica: pensa em você, ignora os que vivem presos a essa “regra” cultural e encosta a sua cabecinha no meu ombro e chora. Os que aproveitam suas amizades para dividir não só alegrias, mas preocupações, reveses e tristezas, ficam menos doentes, de acordo com pesquisas, ou se recuperam de uma queda de saúde em menor tempo de quem não age assim. Mas, ó, não adianta imitar aquela cena clássica de filme e achar que encher a cara no balcão e se abrir com o barman resolve. E nem fazer a tela do laptop verter lágrima usando o Facebook como reality show. A parada tem que ser trocada com uma pessoa ideal para o assunto.

A autossabotagem

Agora, se você usa seu emprego bacanudo, o dinheiro em abundância, mimos materiais e outros trunfos como moeda de troca para firmar relacionamentos, tá frito, camarada: a chance de você encontrar um interlocutor ideal diminui bastante. Agindo assim é quase como pagar para o outro te dar atenção, é uma amizade que só funciona a nível comercial. Se você é desses, saiba que seus relacionamentos tendem à superficialidade e – como me disse meu guru Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de psicologia da USP – a serem baseados em interesses materiais e não em sentimentos e comprometimentos pessoais, esses sim imprescindíveis para que se estabeleçam amizades e outros tipos de relacionamentos pessoais e afetivos. 

Falar banalidades é cada vez mais antídoto poderoso contra esse mundo tresloucado, portanto, nada mais do que recomendado. Só que cuide para não se apoiar em aspectos exteriores como fuga para não falar sobre si. Revele-se. Sinta-se abraçado – nada de errado um homem abraçar o outro. E seja feliz.


Rodrigo Cardoso