5 coisas que (só) aprendemos com os avós Das pequenas coisas às grandes lições de vida, nem sempre damos conta do quanto os nossos avós influenciam a nossa trajetória gplus
   

5 coisas que (só) aprendemos com os avós

Das pequenas coisas às grandes lições de vida, nem sempre damos conta do quanto os nossos avós influenciam a nossa trajetória

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Há algumas semanas perdi o último de meus quatro avós. Mais especificamente minha avó materna. Nada trágico – apenas o ciclo da vida, de mais uma vida, se encerrando. 93 anos bem vividos.

Passado aquele período inicial da perda, da sensação de vazio, do luto, comecei a rememorar diversos momentos que tive com meus quatro  avós – uns que se foram há 30 anos, outra que recém havia partido. E me dei conta, algo emocionado, que há certas coisas na vida de um homem, na construção de nosso próprio caráter, que geralmente só aprendemos com os pais (e mães) de nossos pais (e mães). 

Ter “tomado ciência” disto inclusive me ajudou a sentir reconfortado apesar de ser mais um “órfão de avós”; e perceber um sorriso, ainda que de canto de boca, por lembrar momentos tão marcantes e felizes que, seguramente, me auxiliaram na formação como ser humano, como homem. 

Fui puxando pela memória e “pondo no papel” 5 das coisas que, acredito, só (ou quase sempre) aprendemos com nossos queridos avós:   

1. Cozinhar
Foi com minha avó paterna que aprendi um lanche para matar a fome naqueles momentos críticos de barriga roncando e dinheiro curto: pão (francês) + manteiga + banana. Ela me dizia que era uma “receita do interior”. Nunca soube a verdadeira origem da mesma, mas garanto que ela ajuda a matar a fome de leão típica de qualquer jovem em fase de crescimento. 

Já com os avós “do lado de minha mãe” (sim, ambos eram bons cozinheiros) aprendi a fazer deliciosas panquecas recheadas. Do início ao fim: da massa, batida no liquidificador, ao momento de levar à frigideira com “apenas uma gotinha de óleo”, como instruíam. 

Uma pena que a falta absoluta de prática não me converteu em bom cozinheiro – ou chef, para seguir a linguagem gourmetizada de hoje em dia.

2. Contar histórias
Lembro claramente de vários momentos em que meus avós aproveitavam aquele tempinho antes de dormir para compartilhar histórias: das de Walt Disney àquelas que nunca saberemos sua origem. Muitas delas ocuparam meu imaginário por anos, para não dizer por toda a vida. A ponto de (o que eu acho o mais bacana disto tudo) me ver contando as mesmas histórias para minhas filhas – e me deliciando em ver os olhinhos delas brilharem ao escutar, pela enésima vez, as travessuras do “Menino Mentiroso”.

3. Reunir a família à mesa 
Não tinha esta de “vou comer na sala” ou “depois eu como”; hora do almoço (e eventualmente do jantar) era aquele momento de colocar a conversa em dia, de se reunir como família, falar dos estudos, escutar sobre o trabalho dos já adultos. 

Passei a valorizar este momento quando da construção da minha própria família: é o momento de dividir com a esposa as dificuldades e vitórias de mais um dia de trabalho, ouvir das filhas histórias interessantes que sempre acontecem na escola.

4. Valorizar o trabalho
Recordo de meus quatro avós sempre em atividade, seja como “dona de casa” ou trabalhando em alguma empresa – e valorizando muito esses momentos. As vovós auxiliando incessantemente com as tarefas do lar: chamando o tintureiro em épocas de escassos eletro-eletrônicos, indo à feira, levando os netos à escola; e os vovôs, se dedicando aos empreendimentos que sugavam horas e horas de trabalho. Mas tudo isto sem “sofrimento”, como algo a ser valorizado mesmo, por representar tanto a forma de sustento dos demais da família como a forma de deixar a casa organizada, tinindo.

Foi muito provavelmente desta fonte que bebi para ser um cara tão dedicado ao trabalho (antes, aos estudos) e que faz isso não só pela necessidade mundana e prosaica de um homem qualquer, mas também, de forma absolutamente “natural”, por gostar de estar em atividade, empreender, seguir adiante com um objetivo.

5. Quebrar as Regras 
Muitos já escutaram que ser avô (ou avó) é muito parecido a ser pai (mãe), mas sem toda aquela responsabilidade da criação do filho(a). Claro: quando se é um pai ou mãe minimamente preocupado com seus filhos, em diversas vezes você acaba incorporando o tal “papel de chato”: impor limites, ensinar regras para uma vida em sociedade, cobrar pelos estudos... e por aí vai.

Desta forma, nossos avós, livres do “peso da responsabilidade”, acabam sendo carinhosamente reconhecidos como aqueles que “estragam nossos filhos”; no bom sentido, obviamente. Afinal, quem nunca teve uma ajudazinha de um avô para burlar o horário de dormir ou mesmo comer aquele doce que “era a sobremesa de amanhã”.

Acredito que, com isso, aprendemos também a ter mais jogo de cintura, noção de flexibilidade, equilibrar responsabilidade com momentos de relaxamento. 

Seguramente, poderíamos listar muitas mais lições que aprendemos com nossos avós. Afinal, são bilhões as experiências de vida, com suas particularidades, diferenças. 

Como sou melhor na palavra escrita do que oral, fica aqui a homenagem aos “bons velhinhos” que fizeram parte da minha vida – e que tanto me ensinaram.


Rodrigo Moreno