O amigo do Rei Celso Grellet, sócio de Pelé há 20 anos, conta histórias ao lado do Rei e fala um pouco sobre sua trajetória profissional gplus
   

O amigo do Rei

Celso Grellet, sócio de Pelé há 20 anos, conta histórias ao lado do Rei e fala um pouco sobre sua trajetória profissional

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Ele não foi embora para Pasárgada. Mas é amigo (e sócio!) do Rei. Desde 1991, Celso Grellet está ao lado de Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. São 20 anos de parceria e amizade. Hoje, poucas pessoas são tão próximas do cotidiano do Maior Atleta do Século 20 quanto ele, assim como nos negócios. É tanto tempo que até o próprio Celso se esquece da dimensão da figura de Pelé.

Em conversa exclusiva com o AreaH, ele contou um pouco sobre sua trajetória profissional, falou sobre a amizade e sociedade com o Rei do futebol e revelou histórias curiosas que viveu ao lado da lenda. Algumas inéditas, que Celso contou pela primeira vez. Por exemplo, da amizade cultivada entre Pelé e John Lennon, em Nova York. Amizade celebrada em lugar inusitado!

Confira trechos do papo:

Antes do Rei
 
"Eu sou formado em administração pela FGV, com pós-graduação e mestrado também pela FGV. Também sou formado em direito pelo Mackenzie. Tive alguns cursos e extensões no exterior e morei em Londres por quase seis anos, quando fui convidado para montar o escritório da EMBRATUR na Europa, no fim dos anos 1970, começo dos 1980. Antes, fui estagiário no Citibank.

A ideia da EMBRATUR na ocasião, que persiste até hoje, era a definição do turismo como um produto e que você tinha de divulgar, mostrar, criar awareness, enfim. Tem todo um conjunto de atividades de marketing em torno do produto Brasil como destino turístico. Era uma época em que a gente tinha déficit em transação corrente, precisava de dólar, então o turismo era uma forma de você carrear dólar e o Ministério da Indústria e do Comércio, através da EMBRATUR, abriu o primeiro escritório na Europa.

Foi uma atividade que me deu muito conhecimento, muito traquejo internacional, abriu muitas portas. Foi um período até mais de aprendizado do que de realização."

São Paulo e Clube dos 13

"Eu voltei para o Brasil, terminado meu período lá em Londres, e me tornei conselheiro e diretor do São Paulo. Eu comecei a mexer com marketing esportivo quando eu era diretor e conselheiro do clube, no início dos anos 1980. Comecei a implantar o departamento de marketing do São Paulo, que na época era um negócio bizarro, porque não se tinha a menor noção do que significavam ferramentas de marketing para o futebol profissional.

Fui o primeiro diretor de marketing do Clube dos 13, criado em 1987. Foi um movimento, na ocasião, revolucionário, que antecedeu, em alguns anos, a criação até do G-14 (grupo de principais clubes europeus). A ideia era que os clubes tomassem o poder que pertencia a uma federação, com a criação de uma liga. Os clubes defenderiam os seus próprios interesses. Um modelo semelhante do que é encontrado nas principais ligas americanas, como a NBA, NFL, MLB, enfim."

Sociedade e amizade com o Rei

"A função no Clube dos 13 e no São Paulo acabou me dando uma certa notoriedade nessa área, o que levou ao convite para trabalhar com o Pelé. Eu me liguei a ele em 1991. Naquela ocasião, um ex-sócio do Pelé me convidou para conversar e a ideia era montar uma empresa de marketing esportivo junto com o Pelé, que acabou sendo criada, chamada Pelé Sports & Marketing.

Para mim, embora eu não soubesse exatamente o que ia ser, o raciocínio óbvio era o seguinte: eu ligado a essa marca, alguma coisa de bom vai dar para fazer! E foi uma história longa e que existe até hoje com o Pelé.

Além da sociedade em negócios, há uma amizade pessoal, que ficou nesse tempo todo. Como um amigo, o Pelé não tem nenhuma liturgia ou ritual em torno da pessoa dele, é uma pessoa bastante simples. É muito fácil lidar com ele como um amigo. Você acaba separando isso: o ídolo, o sócio e o amigo. Com a convivência, separa isso. Eu acho que torna a relação interessante, porque fica realmente uma coisa de amigo, relaxada, e boa para trabalhar."

As histórias do Rei

Pelé e Lennon
“Pouca gente sabe, mas Pelé e John Lennon cultivaram uma amizade em Nova York. Ele me contou isso depois, porque não nos conhecíamos nessa época, final dos anos 1970, quando os dois estavam morando na cidade. O mais curioso é onde eles se conheceram pessoalmente e mantiveram a afinidade: em uma escola de línguas! O Pelé estava lá para aprender inglês e o Lennon japonês. Depois que se conheceram e conversaram um pouco, viraram amigos. Nos intervalos das aulas, se encontravam. Antes e depois, também.”

Com Mandela
“O encontro aconteceu em 1995. Ficamos um tempão juntos. Na realidade, quem tinha de estar lá dentro era só ele, mas ele me puxou para dentro. Eu, obviamente, aceitei e peguei carona na conversa dos dois e até dei meus pitacos! Eles ficaram mais de uma hora conversando. E eu ali, de testemunha da história.”

Em Paris
"Uma história interessante aconteceu quando o Pelé foi nomeado embaixador da boa vontade da UNESCO. Eu estava com ele na posse, em Paris. O Pierre Cardin, um dos embaixadores da entidade, ofereceu um jantar pro Pelé no Maxim's, um dos restaurantes mais tradicionais do mundo e que hoje é do próprio Cardin.

Algumas outras pessoas que eram embaixadores da UNESCO estavam presentes na posse, como a Catherine Deneuve, a Montserrat Caballé, o Michel Jarre, Marisa Berenson. Isso foi em dezembro de 1994.

A posse aconteceu de manhã, lá pelas 10h, e ele foi convidado para um jantar. Comentou comigo: “Não vamos, não. Esses jantares são chatos, vamos fazer outra coisa”. Eu disse: “Como você não vai? Isso é uma desfeita!”. E também disse que a única chance de eu conhecer e conversar com aquelas celebridades todas era aquela!

Bom, resumo da história: ele resolveu ir, mas o Maxim's estava aberto, não tinham fechado somente para o evento. Tinha uma sala especial, onde estavam os embaixadores da UNESCO sentados em uma mesa. Bom, os frequentadores do Maxim, em sua maioria, são sofisticados, não tem macaco de auditório ali. Mas foi impressionante, porque todo mundo do restaurante vinha pedir autógrafo e tirar foto com o Pelé, o que causou até certo ciúme, eu notei, dos  participantes da mesa! Eu me lembro que, depois, eu comentando isso com um jornalista amigo meu, ele disse: “Celso, só você que convive com o Pelé todos os dias que não repara nisso, mas ele é mais celebridade do que todas aquelas pessoas presentes!”. É verdade! Quando você está junto com a pessoa, você perde um pouco a dimensão do caráter, de carisma, de ícone dessa pessoa, e isso é muito marcante para mim." 

Os japoneses e o passaporte do Rei

"A história mais engraçada que eu vivi ao lado dele foi em uma viagem de Londres para Nova York, na época ainda do Concorde, acho que 1996, 97. Tem sempre um esquema de aeroporto para o Pelé, né, para não gerar confusão e tal. Esse esquema foi feito, mas quando nos estamos para entrar no avião, no corredor que leva até a aeronave, parou ao lado do Concorde um jumbo da Japan Airlines, e desceram uns 500 japoneses.

Eles reconheceram o Pelé e aí não dá mais nem para segurança proteger, porque está no corredor de entrada do avião! Veio aquele monte de gente pedindo autógrafo para ele, tirando foto, japonês adora foto! Bom, ele deu um monte de autógrafo, tirou foto, foi um sufoco, segurança empurrando, mas acabamos entrando no avião e fomos para NY.

Quando chegamos em NY, ele vira pra mim e fala: “Escuta, Celso, meu passaporte tá com você, né?”. Falei: “Não, não tá comigo, eu te dei lá no aeroporto, pô!”. Ele não estava com o passaporte! Ele disse: “Naquela confusão dos japoneses, eu estava assinando autógrafo apoiado no passaporte e é capaz de ter ido para algum japonês!”. Eu disse: ”Bom, você tá fodido, porque sem o passaporte você não vai entrar, mas eu vou”. Bom, ia ser uma dor de cabeça, uma chatice!

No aeroporto em Nova York, uma das pessoas que veio receber a gente era um crioulão da alfândega que sabia que o Pelé ia chegar. O sobrinho dele tinha jogado na escolinha do Pelé, quando o Pelé morou lá, treinava garotos e etc. Eu chamei o cara em um canto e expliquei toda a história. Ele perguntou se eu estava com o meu passaporte e disse que daria um jeito. “Vem comigo que eu vou dar um jeito”, disse. Ele foi falar com não sei quem, voltou com um cara, que pediu meu passaporte e carimbou. O Pelé assinou um papel e acabou entrando, sem passaporte, nos EUA!

Mas o mais engraçado dessa história não é aí! Dois dias depois, no escritório do Pelé em NY, o passaporte chega! Só japonês para fazer isso!! Você acredita que o japonês tinha um cartão do Pelé com o endereço do escritório em NY e mandou o passaporte para lá, com uma carta pedindo desculpas? Só japonês, né, porque um fã dele que pega isso vai guardar o passaporte para ele para sempre! E o japonês ainda pediu um milhão de desculpas!"