Deixe-me comer bacon em paz, parça! Fitmaníacos conseguem passar meses à base de frango e batata-doce. E ainda arrumam forças para sorrir. Eles têm superpoderes? gplus
   

Deixe-me comer bacon em paz, parça!

Fitmaníacos conseguem passar meses à base de frango e batata-doce. E ainda arrumam forças para sorrir. Eles têm superpoderes?

Confira Também

Uma rápida entrada no Instagram já é suficiente para percebermos que uma legião de fitmaníacos invadiu o planeta. O compartilhamento de abdomens rasgados, receitas com whey protein e dicas de treinos mirabolantes se tornou o novo pretinho básico das redes sociais. Atividade tão comum que, sem medo de acabar com um olho roxo, afirmo: que atire o primeiro halter quem não possui um conhecido que vive a postar fotos sem camisa e pratos que só abrem o apetite de pardais. 

E mesmo sabendo que muitos dos fitmaníacos se tornam verdadeiras fábricas de gases atômicos devido à ingestão de doses cavalares de suplementos, sinto-me na obrigação de fazer uma nobre confissão: admiro-os, de verdade, graças à notável força de vontade e disciplina que têm. Para um cara como eu, que possui extrema dificuldade de acordar às nove da manhã para dizer um simples “alô”, é muito fácil admirar qualquer criatura que consegue despertar às cinco da manhã de um domingo frio e chuvoso para correr quilômetros. Enquanto eu sou assumidamente incapaz de voltar da cozinha sem portar um pedaço de bolo ou um teco do bife à milanesa que restou do almoço, os fitmaníacos conseguem passar meses à base de frango e batata-doce, somente. E ainda arrumam forças para sorrir, o que me leva a achar que eles possuem superpoderes ou um sistema operacional mais atualizado. 

O que foi? Não esperava por um parágrafo inteiramente dedicado a homenagear os fitmaníacos? Eles merecem, oras. Não todos, aliás. Porque existe uma subespécie de fitmaníacos que tem torrado a minha paciência de Jó: a tribo de pentelhos que, em tom de bronca e com as mãos apoiadas sobre a cintura, vive a perguntar coisas como: “Cadê as fibras do seu prato, hein?”. Ou ainda: “Você é ignorante? Tem dado rolê com o Rafael Pilha? Não sabe que o açúcar refinado é um veneno tão letal quanto a peçonha inoculada pela mamba-negra?”.

Se você escolheu uma existência totalmente fit, bom pro cê. Sério mesmo! Mas, por gentileza, depois da quinta vez que eu disser “Não troco pão francês com requeijão por nada!”, pare de tentar me convencer a incluir chia, quinoa, goji berry e outras comidas de astronauta infeliz em minha dieta. E não me crucifique, como se eu fabricasse paletas mexicanas sabor filhote de labrador fofinho, nas vezes em que eu, publicamente, declarar o meu amor à coxinha e a outros quitutes que aumentam sorrisos e diminuem expectativas de vida, eu sei, não precisa ficar repetindo. Isso é chato pra carái, parça! Eu tô ligado que você quer o meu bem e blábláblá, mas eu tenho o direito de optar por pratos menos coloridos do que os recomendados pelos nutricionistas, não tenho? Então, pronto! Eu tenho o direito de comer a gema e o miolo do pão, independente do que as más línguas dizem a respeito dessas gostosuras. Eu tenho o direito de colocar um balde de leite condensado sobre o meu açaí, e, nas vezes que eu fizer isso, não admito que você me olhe como se eu tivesse acabado de acender uma pedra de crack dentro de uma creche lotada de catarrentos. Eu tenho o direito de comer carboidrato simples depois da meia-noite sem ter que ouvir um: “Macarrão? Agora? O ideal é...” O ideal pra quem, cara pálida? Porque pra mim, sinceramente, o ideal é não jantar alimentos que me façam sonhar que sou um calopsita ou outro pet que só aceitaria viver engaiolado caso um prato de nhoque recheado de catupa, todos os dias, fosse servido por lá.

Ah, e pare de mentir pra mim, por favor! Você nunca mentiu? Não mesmo? Então por que você me disse que a carne de soja é tão saborosa quanto uma picanha? Hein? É mais benéfica à saúde e ao planeta, sem dúvida, mas, honestamente, não chega nem aos pés de uma bela picanha no quesito “sabor”! 

Você acha que eu não percebi o jeito que você me olha quando eu peço o dobro de queijo ou borda recheada? Eu sei que você, quando quer convencer os seus frutos a seguirem os seus passos, aponta para mim e diz: “Está vendo aquele barrigudinho portando um perigosíssimo x-burguer, filhão? Ele está perdido no mundo dos tóxicos, começou a consumir gordura trans depois que perdeu o emprego e que pegou a mulher na cama com o zelador!” Mas não se preocupe, rapaz, porque eu lhe perdoo por me usar como exemplo do que não deve ser feito, e respeito as suas escolhas, mesmo não as achando tão gostosas quanto as minhas. E pode ficar tranquilo, pois eu prometo, de coração: nunca darei Coca-Cola ou sorvete aos seus filhos quando você estiver no banheiro usufruindo dos benefícios de uma dieta rica em fibras. E se um dia um dos seus espermatozoides vencedores me perguntar como é o gosto de uma bolacha recheada, eu juro que farei a mesma careta que faria se um louco, em uma sexta-feira qualquer, convidasse-me para um suco detox acompanhado por uma porção de sementes de girassol. 

Vamos fazer um acordo? Se você não me encher mais o saco quando eu pedir ao garçom para caprichar no bacon do meu lanche, eu prometo que farei vista grossa na próxima vez em que você responsabilizar o seu cachorro – ou o Tietê - por seus peidos capazes de derreter pelos nasais. Fechado?


Ricardo Coiro