Por que o futebol dos anos 90 era muito melhor? O futebol atual não apresenta mais craques natos com personalidade de decisão de jogo. Vivemos a desconstrução do esporte bretão gplus
   

Por que o futebol dos anos 90 era muito melhor?

O futebol atual não apresenta mais craques natos com personalidade de decisão de jogo. Vivemos a desconstrução do esporte bretão

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Quando foi que o futebol virou um astro do pop? Talvez para esta resposta não tenhamos uma data exata. Mas pode-se dizer que foi um processo lento que começou na Fifa, no âmago das gestões Havelange/Blatter. Mas no gramado a coisa começou a degringolar em 1994, durante a Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos.

Pode-se dizer de uma forma mais “poética” que naquele ano o futebol simpatizou de vez com a ideia do show bizz e passou a cruzar a linha que o definia como um megaevento esportivo se transformando em um espetáculo de proporções épicas.

Embora a mudança tenha se dado de forma - até certo ponto - lenta, hoje é mais que evidente a globalização do futebol e o seu poder como fenômeno de mídia. Não à toa 22 marmanjos correndo atrás de uma redonda se transformou em um negócio tão bilionário que todo Sheik que se preze tem o seu clube de futebol na Europa.

Depois de desvirginada a última fronteira de expansão do futebol, as coisas começaram a mudar drasticamente. Alguém aí se lembra dos grandes craques daquela Copa? Romário, Bebeto, Roberto Baggio, Paolo Maldini, Franco Baresi, Maradona, Gheorghe Hagi, Hristo Stoichkov entre outros tantos jogadores marcantes.

E o que todos eles têm em comum? Eles são humanos, você consegue imagina-los tomando aquela gelada em qualquer pé sujo por aí, diferente dos craques de hoje que promovem festas dignas de rock stars. Como dito anteriormente, a mudança não se deu de imediato. Mas o que dizer da geração seguinte?

A geração seguinte não foi tão diferente, os caras eram mais jogadores do que astros do rock, mas os primeiros sinais de mudança vieram a partir daí. Sávio, Roque Junior, Basílio, Carlos Miguel, França, Wagner, Camanducaia, Euller, Edilson, Vampeta, Gilmar Fubá, Valdir Bigode, Junior Baiano, Odvan, Amaral, Djalminha, Denilson, Paulo Nunes, Ronaldo Fenômeno, Adriano e Ronaldinho Gaúcho são alguns dos últimos jogadores da geração romântica do futebol brasileiro, antes do surgimento de Robinho e sua trupe, onde o jeito “moleque” (leia-se afetado e bunda mole) se sobrepôs sobre o jeito "malandro".

Vamos dar um salto no tempo até a última bola de ouro, vencida de maneira incontestável por Cristiano Ronaldo, o jogador que sem dúvida alguma é o avatar - embora Neymar Jr se esforce para deter este título - deste novo modelo de futebol midiático. Seu título e seu discurso - aquela ladainha de sempre - colocou o último prego no caixão do folclore futebolístico e suas lendas.

Hoje tudo se resume a selfies, postagens no Twitter e a grandes campanhas publicitárias - vamos ignorar as dancinhas. O jogador não é apenas um esportista, é um produto de marketing e Cristiano Ronaldo é o ícone máximo por trás disso, ele é um fenômeno de mídia como nenhum outro jogador foi - incluindo David Beckham. Ele é o craque do vídeo game, ele é o rostinho bonito no comercial de shampoo, ele é o resumo do produto que o futebol se tornou.

Embora o talento do português seja inegável e seu desempenho físico seja de outro planeta, nós saudosistas não acreditamos que o futebol se resume apenas a isto. Nós cansamos dos jogadores que seguem fielmente a cartilha do “politicamente correto” - obrigado Balotelli.

Nós queremos um novo Marcos e suas histórias divertidíssimas, nós queremos outro Vampeta e suas provocações que criavam uma atmosfera sem igual para os grandes clássicos. Nós cansamos de Neymar e seus parças. Nós queremos jogadores humanos, e não garotos egocêntricos de ego inflado. E assim que Rogério Ceni se aposentar, perderemos o último jogador lúdico do futebol brasileiro, o último moicano - com o perdão do trocadilho - que não tem medo de incomodar.


Marcel Costa