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Coletivos LGBTs querem visibilidade e segurança nas universidades

25/10/2016 00:00

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Receber a alcunha de “destruidores da tradição da universidade” diz muito sobre a necessidade dos grupos de militância dentro dos espaços acadêmicos. Ainda mais quando a “tradição” está relacionada à exclusão social, piadas preconceituosas e ações de violência, como as que são vistas em tradicionais festas universitárias ou nos batismos dos calouros.

 

“Criamos um coletivo porque queríamos que os bichos [como também são chamados os calouros] fossem recepcionados melhor do que nós fomos”, explica Leonardo Alvim, do Coletivo de Diversidade do Instituto de Geociências da USP.

 

Um dos participantes da segunda edição da Semana da Diversidade da Escola Politécnica, o estudante de licenciatura lembrou as festas de batismo do curso, na qual muitos calouros recebiam apelidos humilhantes ou pejorativos e tinham que correr, dentro de sacos de batata, e mergulhar em uma caixa cheia de água para “formalizar” o ingresso no curso.  

 

Os grupos de militância, em sua opinião, contribuem para a formação de um ambiente mais agradável, principalmente para as minorias.

 

O evento foi organizado pela Frente PoliPride, outro coletivo voltado para a comunidade LGBT, que atua dentro de um cursos mais tradicionais da Universidade de São Paulo. “Nossa intenção é também quebrar o estereótipo da engenharia como um curso para homens, heterossexuais e cisgêneros (quem se reconhece com o gênero designado no nascimento). Somos muito mais do que isso”, descreve Cezar Vieira, estudante da Escola Politécnica e membro da PoliPride.


Além dos muros da universidade


A visibilidade que toda a militância traz dentro de um ambiente acadêmico é tão importante quanto a que é aplicada fora dos muros da universidade. Para Deivid Déda, do Coletivo da Faculdade de Medicina da USP (Mosaico), ter conhecimento e respeito pela diversidade vai muito além de aceitar um beijo gay em uma festa tradicional do curso.

 

“É entender que o LGBT existe e que tem uma saúde a ser tratada”, exemplifica. “Nas aulas, sempre falamos de medicina em termos heteronormativos e a saúde da mulher é totalmente voltada para a reprodução. Mas e a saúde dos transexuais? E a saúde da mulher lésbica? Os médicos mal sabem orientá-las sobre como se protegerem na hora do sexo.”

 

Vitor Piazzarollo, do Coletivo LGBT da Faculdade de Direito (SanFran), partilha da mesma opinião. “Estamos formando advogados e juízes que vão trabalhar, por exemplo, com a resignação de nomes sociais para transexuais. É um processo difícil, a lei é vaga nesses casos, então vai muito de acordo com as convicções do juiz. Um juiz que teve mais contato com essas pessoas em um ambiente acadêmico tende a ter mais cuidado com elas; não as deixam desamparadas”, pontua Vitor, que cita o grupo de estudos sobre auxilio jurídico para trans, que o coletivo criou dentro do curso, como uma ferramenta que transforma o olhar que se tem dessa população.