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Financiamento empresarial de campanhas prejudica a sociedade

30/05/2015 00:00

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Aprovada em primeiro turno pela Câmara nesta semana, a proposta de emenda à Constituição que permite o financiamento empresarial de campanha tende a aprofundar a falta de legitimidade com que os políticos e instituições são vistos pela população brasileira. A análise é do cientista político Aldo Fornazieri, da FESPSP, que endossa o coro dos especialistas que apontam o fornecimento de dinheiro vindo de empresas como uma das principais causas da corrupção.  

Segundo Fornazieri, o problema é duplo: ao doarem aos partidos, as empresas abrem uma porta para a corrupção, na medida em que poderão obter benefícios se o candidato do partido que ajudaram for eleito. O desdobramento é que, como o político foi eleito pelo interesse de uma companhia privada, ele deverá dar mais atenção às requisições de seu patrocinador, se distanciando cada vez mais da sociedade, que tem outras pautas e valores.

“Os partidos dependem cada vez menos da sociedade. Se nós fizermos estruturas partidárias fortes, temos que criar mecanismos que permitam uma interação maior entre partidos e sociedade, não entre partidos e empresas, e não entre os próprios partidos e o Estado”, argumenta.

Fornazieri também não defende o financiamento exclusivo de campanhas pelo Estado porque, segundo ele, o  partido no governo também pode se aproveitar do mecanismo estatal em beneficio próprio e, do mesmo jeito, causar um crise de legitimidade ao se estatizar cada vez mais.

“Acho que a melhor forma de financiamento é o misto, que é público e individual, mas não o de empresa”, justifica.  

Posição dos partidos na votação

Na análise dos três maiores partidos da Câmara, Aldo Fornazieri destaca que o prognóstico sobre a reforma política é que “se muda pouco no sistema, e para pior”.

Segundo ele, a votação do assunto pela bancada do PT, que foi integralmente contra a medida, está alinhada com a proposta do partido em tentar recuperar sua credibilidade, combalida pelos escândalos de corrupção.

“Isso não significa que, por si só, a solução que o PT apresenta seja adequada para criar uma maior legitimidade política nos partidos, nas instituições, porque acho que o partido vai para um caminho exatamente oposto, também perigoso, que é uma dependência total dos partidos em relação ao Estado", analisa.

Quanto à postura do PSDB, que pede a moralização na política ao fazer oposição, e cuja maioria esmagadora dos deputados votou pela aprovação da medida –  com  apenas um voto contra - , Fornazieri aponta uma falta de consistência no discurso tucano.

“É uma profunda contradição no PSDB porque a corrupção no Brasil, evidentemente, é feita por indivíduos, mas a 'grande corrupção' tem causas estruturais, e um dos problemas é o financiamento de campanha. Então, não adianta você cobrar moralidade pública, fazer discurso, e não querer reformar as instituições no sentido de elas trancarem a corrupção”, afirma o especialista.