A lógica do pau mandado Especialistas desvendam o que há por trás das orelhas baixas e ar constrangido de homens que parecem ter vocação pra obedecer gplus
   

A lógica do pau mandado

Especialistas desvendam o que há por trás das orelhas baixas e ar constrangido de homens que parecem ter vocação pra obedecer

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No Brasil ainda é comum ouvir homens falando que não suportam ver outro homem obedecendo uma mulher. Já ouvi inclusive mulheres dizerem o mesmo. Particularmente, eu não me incomodo de ver um cara que obedece a uma dama. Que me importa? Cada um estraga a própria vida do jeito que quiser, como diz o Abujamra. E aliás, pode ser tudo uma questão de momento. Ou não? No fim das contas, o jogo da vida aparentemente funciona assim: ou você manda, ou é mandado. De que lado você quer estar? 

Submissão e respeito
Segundo a psicóloga Flavia Bogalhão da Gama, da Clínica Espaço Psicologia, para entendermos o lugar ocupado pelo homem hoje em dia, precisamos mergulhar na história da libertação e evolução feminina.” A mulher ganhou espaço no mercado de trabalho, na sociedade e deixou de exercer apenas as limitadas funções de ‘dona de casa’ submissa às vontades do chefe homem. Hoje a mulher trabalha dentro e fora de casa, controla sua natalidade (através do consumo de pílulas anticoncepcionais) e exige divisão das tarefas domésticas com seus companheiros. Não acredito que os homens estejam submissos, mas tiveram que modificar antigos pensamentos e atitudes em relação às mulheres e passaram a respeitá-las.”

Já para o Dr. Jô Furlan, médico, pesquisador na área da neurociência do comportamento e treinador comportamental, os homens estão mais submissos às mulheres hoje em dia . “O poder e a influência feminina (que muitas vezes se restringia ao lar, onde a ultima palavra poderia ser do homem, mas a ideia que era comunicada era dela) tomou novos rumos a partir do momento que a mulher contribui com o faturamento da família”. De acordo com Furlan, essa divisão de poder ficou mais evidente por conta do aumento d a autoestima feminina,  “fazendo com que ela se posicione mais claramente sobre suas vontades e desejos”

Após vinte anos, Furlan conta que chegou à conclusão  de que existem três tipos básicos de homem na relação entre homem e mulher:

“O primeiro é o que a mulher manda nele. 

O segundo é o homem que pensa que a mulher não manda nele, mas manda. Esse é o iludido.

O terceiro tipo é o solteiro... que está procurando uma mulher pra mandar nele.

Dizer pros amigos que manda em casa é muito fácil, afinal 'quem manda casa sou eu, mas quem manda em mim é a minha mulher.'

O novo papel do homem
Gama defende que, o homem, ao longo dos anos, perdeu a força e importância social que tinha. “A mulher tornou-se independente e rompeu barreiras antes impostas por uma cultura machista e misógina. Atualmente, a mulher é vista atualmente como alguém igualmente capaz, seja no mercado de trabalho ou nos afazeres domésticos e cuidados da família. O homem não é mais o único provedor do lar. Os papéis de homens e mulheres igualaram-se. Ele passou a não mais ser essencial, o único chefe da família. Com isso, abriu espaço para a mulher e perdeu seu poder egocêntrico e castrador.”

“Houve o tempo em que o homem era provedor do lar e que a mulher queria alguém para protegê-la . Hoje, ela deseja um homem para amar, construir a sua vida ao lado dele. Não é necessário mais ter um ‘homem’ para ter uma família”, concorda Furlan.

Carreira x Filhos
“O homem descobriu que criar/educar um filho com amor não é uma aptidão exclusivas das mulheres. Para alguns homens ser pai se tornou mais importante do que ser um profissional reconhecido e bem sucedido”, afirma o médico. “Muito embora ainda haja preconceito por parte da sociedade”, observa Gama, “os homens ‘donos de casa’ ganham cada vez mais espaço, uma vez que a mulher hoje em dia trabalha e disputa os mesmos cargos”.  

Distribuição de poder
Para a psicóloga, “submissão é patológica!” e requer tratamento psicológico porque “representa ausência de autoestima e dependência afetiva”. Gama explica que onde há submissão, há um relacionamento que não é sadio, pois uma das partes é reprimida a favor da satisfação plena de outra. “Quando isso ocorre, a parte reprimida certamente sofrerá danos psicológicos e físicos. Portanto, é hora de romper com tal vínculo doentio, visando bem estar e saúde mental. Não há como manter-se bem e equilibrado em um relacionamento egocêntrico e destrutivo”. A especialista destaca que pessoas submissas tem uma visão distorcida e enfraquecida acerca de si mesmo,” dando espaço para a dependência emocional e desvalorização de suas vontades e pensamentos.” 

“Muitas vezes o homem opta por não discutir certos pontos porque acredita que o desgaste do confronto não vale a pena. Isso funciona como regra: o problema é quando se torna uma lei”, comenta Furlan. O médico defende que se o homem passa a não questionar a mulher em nenhum contexto, seja ele pessoal profissional ou família, e se sente intimidado, é porque “deve rever o seu relacionamento e não apenas o seu posicionamento.” 


Danilo Barba